Bruno Lage não gostou de ver escrito e de ouvir que tinha aproveitado o jogo da Taça da Liga contra o SC Covilhã para “queimar” Zivkovic e tem alguma razão. Primeiro porque transporta no passado recente o exemplo de um caso com resultados diametralmente opostos, pela positiva – o de Taarabt. Depois porque, por princípio, considerar que o fracasso ou o sucesso dependem mais dos outros do que de nós próprios é sinal de uma debilidade no plano mental que impedirá qualquer um de vingar no super-competitivo mundo do futebol. E finalmente porque, a este nível de exigência, não acredito que haja treinadores a colocar jogadores em campo para que as coisas lhes corram mal, colocando em risco a equipa só para provarem a razão num caso particular – ainda por cima quando esse caso até estava abafado e ninguém falava nele há tempos.
Zivkovic teve, na Covilhã, uma “oportunidade” e, ainda que o treinador tenha sentido alguma necessidade de explicar por que razão ela foi tão tardia – aí, sim, pareceu alongar-se em demasia, como se tivesse culpas no cartório –, só tinha que a aproveitar. Tudo o resto é contexto. O facto de o treinador ter recorrido à desistência do sérvio lutar por um lugar na época passada ou de ter introduzido o mercado de transferências na explicação, alegando que só “após o fecho do mercado, ele tem treinado de forma tranquila, sempre a tentar evoluir”, não difere em nada do que o próprio Lage tinha dito acerca de Taarabt, quando o chamou aos convocados para defrontar o CD Tondela, em finais de Março. “Tem 29 anos, teve uma carreira brilhante até certo ponto, mas perdeu imenso tempo, por responsabilidade total dele e tem consciência disso”, disse na altura o treinador do Benfica. “Mas quando um indivíduo trabalha como ele tem trabalhado, temos de dar-lhe uma oportunidade. A partir daqui, só depende dele”, completou.
Na altura, as coisas correram melhor a Taarabt do que agora a Zivkovic. Entrou a 20 minutos do fim de um jogo que os encarnados iam empatando, em casa, com o CD Tondela, e foi determinante na forma como deu velocidade e verticalidade à equipa, acabando por ser importante no difícil 1-0 final. Zivkovic não teve a seu favor essa “chicotada” que é entrar num jogo com ele já em andamento, sentir que pode mudar qualquer coisa e, mais, que o treinador acredita que ele pode mudar qualquer coisa – há sempre algo de anestesiante no facto de se ser titular numa equipa repleta de segundas linhas… – mas teve mais tempo em campo. Não justificou a titularidade? Não. Na verdade, não foi nem pior nem melhor do que os outros e não será certamente pelo que mostrou na Covilhã que vai deixar de ter hipóteses de jogar daqui para a frente. Porque as razões do ostracismo a que vem sendo votado são outras.
Quais? Veremos nas próximas semanas. Se o treinador até assumiu que o fecho do mercado (que já foi há três meses…) pôs ponto final num período de fraco rendimento e de falta de empenho nos treinos, o mais normal é que a esta oportunidade se juntem outras. Pelo menos até o mercado abrir outra vez… Se isso não acontecer, é sinal de que têm mesmo razão os que alegam que Zivkovic está de castigo por não querer renovar contrato.