Sempre que leio e ouço por aí que o FC Porto já não é o que era, que Pinto da Costa está velho e acabado, recordo-me que ando a ouvir isso há uns 15 a 20 anos, porque por alguma razão quem menos gosta do presidente do FC Porto deve achar que a noção da finitude é algo que afeta mesmo o homem. Sim, sendo presidente há mais de 35 anos, Pinto da Costa terá mesmo de estar velho e muito próximo do fim, o que deixa o clube com um problema real de sucessão – porque nenhuma liderança tão longa dá espaço à preparação saudável de sucessores – mas o caso Conceição-Danilo diz mais sobre a personalidade dos intervenientes e sobre o estado atual do mundo do que sobre a decrepitude decisória de Pinto da Costa e dos que o rodeiam na liderança do FC Porto.
Foquemo-nos na história, porque gosto sempre de enquadrar os eventos de forma a melhor os explicar. Em Fevereiro de 1989, depois de uma chegada tardia ao Funchal, na véspera de um jogo com o Marítimo, o jantar da equipa teve de se prolongar para lá da meia-noite e os jogadores ficaram descontentes por verem os dirigentes serem servidos antes deles, pois entendiam que precisavam de ir descansar. Fernando Gomes, à data capitão de equipa, mas já suplente na equipa de Artur Jorge (e isto não é despiciendo no desenrolar dos eventos…) insurgiu-se contra o facto e envolveu-se numa discussão com Otávio Machado, que era o treinador-adjunto. No dia seguinte, o capitão foi informado que estava suspenso e que deveria regressar ao Porto – na verdade, não voltou a fazer um jogo oficial com o emblema azul e branco, que hoje defende na qualidade de dirigente, tendo sido o emblema da chamada “limpeza de balneário” que o treinador fez no final dessa época.
Diz-se agora que este, sim, era o FC Porto idealizado por Pinto da Costa, um clube que não cedia a pressões. Dizem-no os mesmos que ridicularizam o regresso de Ivan Marcano, depois de o espanhol ter saído em final de contrato para a AS Roma, a custo zero, e alegam que num FC Porto “à antiga”, no FC Porto dos tempos de glória, isso nunca seria permitido, mas esquecem-se, por exemplo, que em 1986 Jaime Pacheco e Sousa regressaram ao clube dois anos depois de terem rescindido contrato para assinarem pelo Sporting e ainda chegaram a tempo de serem campeões europeus.
Começo por não ser defensor desse modelo de gestão reclamado pelos saudosos da cretinice para estabelecer as diferenças – e mais me oponho quanto mais histórias ouço, como as levaram à saída de Co Adriaanse, por exemplo – mas também acho que o que mudou não foi tanto o FC Porto. Foi, sobretudo, o Mundo. É claro que Pinto da Costa está mais velho e é evidente que com a idade a regra é que se percam faculdades, mas o decisivo nestes eventos não é a idade do presidente: é, sim, a existência de vários programas de futebol nas televisões e de redes sociais e dos canais de propaganda dos clubes como formas de propagação da “informação”.
Não sei – não posso saber – quem tem razão no caso Conceição-Danilo. Não estava lá, não vi. Em abstrato, o capitão tem o dever de respeitosamente defender o grupo, mas quem manda é o treinador, que se se sente ameaçado nessa autoridade também tem o dever de colocar respeitosamente o capitão no seu lugar. Se alguém se esticou demais na argumentação, não devia tê-lo feito. Agora para alegar que o incidente prova que o FC Porto já não é o que era, desculpem, mas é preciso ter andado a dormir nos últimos 35 anos.