Golos e nacionalidade. Em 2019 existem dois denominadores comuns que aproximam Robert Lewandowski, Arkadiusz Milik e Krzysztof Piatek. Por esta altura, poucos são os países que reúnem um poderio ofensivo tão avassalador como aquele à disposição de Jerzy Brzeczek, atual selecionador polaco. Milik, Piatek e Lewandowski são três dos maiores goleadores, homens de área, do futebol europeu atual. Dificilmente encontramos no mundo um país que produza tão bem pontas de lança como a Polónia. Na terra dos goleadores, porém, há um português que é rei. Chama-se Flávio Paixão.
Desde 2013 que Polónia rima com golos em português. Atualmente no Lechia Gdansk, Flávio Paixão vai na segunda aventura na Polónia depois de duas temporadas e meia ao serviço do Slask Wroclaw. O que não diferenciou ambas foi uma coisa: golos. Afinal, com os dois tentos apontados frente ao Lodzki no passado fim de semana, Flávio Paixão escreveu a sua história no futebol polaco. Deixou a pegada eternizada. Chegou aos 68 golos e tornou-se no melhor marcador estrangeiro da história da liga polaca. Há algo naquela água que transforma homens em máquinas de golo.
Com os dois golos frente ao Lodzki, Flávio Paixão chegou aos sete esta época. Sete golos em 18 jogos, deixando o atacante português perto da dezena de golos pela sexta vez consecutiva desde que chegou à Polónia. Na verdade, apenas na temporada de estreia, em 2013/14, Flávio Paixão não chegou pelo menos aos dez golos naquele país, mas nessa época fez apenas 13 jogos pelo Slask. De lá para cá, nunca mais ficou abaixo dessa marca, tendo apontado 15 golos em 43 jogos na época passada. De lá para cá, tem estado sempre no topo da lista dos melhores marcadores portugueses no estrangeiro.


Com passagens por quatro países distintos desde que em 2006 deixou o futebol português, Flávio Paixão é um verdadeiro globetrotter. Ainda para mais, tendo já jogado no continente asiático, ao serviço do Tractor, do Irão, entre 2011 e 2013 depois de passagens por Espanha ao serviço de CF Villanovense, Real Jaén e CD Benidorm, bem como pelo Hamilton Academical, no futebol escocês. Foi na Polónia, porém, que Flávio Paixão encontrou sucesso como nunca tinha vivido até então. Um “late bloomer”, como dizem os ingleses, tornando-se rei em plena terra de goleadores.
“Sabia que ia acontecer, mais tarde ou mais cedo. Os colegas e o treinador falavam sobre isso. Eu não ligava muito a isso, estava tranquilo. Não olho muito a estatísticas. Ainda assim, reconheço que é um feito extraordinário para alguém há tantos anos na Polónia”, revelou Flávio Paixão ao jornal O Jogo, antes de explicar que a conta do fim de semana até podia não ter ficado por ali. “Marquei dois grandes golos, é verdade, mas foi-me anulado outro e um penálti foi revertido pelo VAR. Podia ter sido um póquer ou um hat trick”.
A terminar contrato com o Lechia Gdansk este verão, clube onde é também recordista de golos, registo estabelecido na temporada passada, Flávio Paixão não escondeu o desejo de se manter no campeonato em que foi mais feliz em toda a carreira: “Já sinto que sou uma marca na Polónia, o que parecia impensável para um rapaz que veio de Sesimbra. Estou há cinco anos no Gdansk e sou muito feliz por aqui”. Natural de Sesimbra e produto da formação do GD Sesimbra, em Portugal, Flávio Paixão nunca foi além da II Divisão B portuguesa: em 2005/06 participou em 11 encontros do FC Porto B na Série B da competição. Saiu para Espanha na temporada seguinte e não mais voltou, sem nunca esconder o sonho de um dia jogar pelo Sporting.
Com os dois golos apontados ao Lodzi, Flávio Paixão isolou-se como o melhor marcador estrangeiro da liga polaca com 68 golos, ultrapassando o sérvio Miroslav Radovic e distanciando-se do irmão gémeo, Marco Paixão, que esta temporada deixou o futebol polaco e rumou ao Altay, da primeira divisão turca. Ao longo de cinco temporadas no futebol polaco, também elas divididas entre Slask Wroclaw e Lechia Gdansk – com uma passagem pelo Sparta Praga pelo meio -, Marco apontou 61 golos em 123 jogos. 68 golos, de Flávio Paixão, que lhe permitem igualar um nome bem conhecido do futebol português na tabela de melhores marcadores históricos no futebol polaco: Marek Saganowski.
Flávio Paixão – tal como o irmão -, tem sido nos últimos anos um dos melhores marcadores portugueses no futebol internacional. Com 68 golos, fez história na Polónia e está agora a apenas dez do top-5 de melhores marcadores históricos do campeonato daquele país. Uma marca que, quem sabe, não vai ser ultrapassada ainda esta temporada, numa altura em que Flávio Paixão se encontra a realizar os últimos jogos do atual vínculo com o Lechia Gdansk. Com os golos marcados ao Brondby, nas rondas de qualificação para a fase de grupos da Liga Europa, Flávio tornou-se ainda no primeiro jogador a marcar mais do que um golo nas competições europeias pelo Lechia. Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: Flávio Paixão já deixou a sua marca. A marca de ser rei na terra dos grandes goleadores.
Os melhores portugueses no estrangeiro em 2019/20:

