Para a história, Rogério ficou o “Pipi”. O nome, inventado pelo colega Albino, depois de se perceber que o “Agulhas” não pegara, tinha tudo a ver com ele. Porque era alto e bem parecido, gostava de se vestir bem e pediu a um alfaiate que lhe fizesse fatos copiados da última moda italiana, com casacos de três botões e calças apertadas em baixo. Mas sobretudo porque, em campo, era um exemplo de elegância de movimentos, de fineza no trato da bola, de requinte no drible e na exigência estética. A visão romântica levou-a até ao fim quando recusou o profissionalismo e trocou o Benfica, onde vencera a Taça Latina, pelo Oriental, que ajudou a subir de divisão.
Era, afinal, um regresso às origens, pois Rogério Lantres de Carvalho nascera a 17 de Dezembro de 1922 em Chelas. O pai, Arménio Carvalho, tinha sido um dos fundadores do Chelas – um dos clubes de onde nasceu o Oriental – e o irmão, Armínio França, era a estrela da equipa quando o jovem Rogério foi lá jogar e lhe roubou o estatuto. Peyroteo, que era colega de Rogério no Grémio das carnes e o vira num solteiros contra casados, já o convencera a ir treinar à experiência ao Sporting, mas na altura de se mudar o jovem atacante escolheu o Benfica. Corria o ano de 1942, o Chelas ganhou 10 contos, ao jogador deram 16. E Rogério correspondeu logo desde a estreia: nas Salésias, fez um dos golos com que o Benfica venceu o Belenenses. A sério, deu os primeiros passos de vermelho no campeonato de Lisboa, e também aí marcou, abrindo o ativo nos 5-1 ao Atlético, na Tapadinha.
Em 12 anos de Benfica, jogando ora como interior ora como extremo, Rogério teve muitos pontos altos, a começar logo na conquista do primeiro dos seus três títulos nacionais, na época de estreia. Foi, contudo, nas provas a eliminar que mais se destacou. Além de ter sido chamado à tribuna de honra do Estádio Nacional para receber a Taça Latina de 1950, a primeira conquista internacional do futebol português, ganhou as seis finais da Taça de Portugal que jogou, fazendo sempre golos, num total de quinze que ainda são recorde da prova. O destaque vai para os cinco nos 8-0 ao Estoril, em 1944, para os quatro nos 5-1 à Académica, em 1951, e para o “hat-trick” no mítico 5-4 ao Sporting, em 1952, desafio em que também falhou um penalti.
Por essa altura já Rogério iniciara a carreira na selecção, pela qual fez 15 jogos. Estreou-se em Abril de 1946, frente à França (vitória por 2-1), e a sequência de bons resultados e exibições nesse ano e no seguinte levou o Botafogo a lembrar-se dele quando quis “roubar” adeptos portugueses ao Vasco da Gama. Em 1947, Rogério antecipou o casamento para se vincular ao clube carioca, recebendo 40 contos de luvas, mais 10 contos por mês de salário. É certo que as coisas não correram muito bem – em Março de 1948, após conflitos com o Dr. Heleno, voltou ao Benfica – mas Rogério pôde, a partir daí, encarar o futuro de outra forma. Por isso, em 1954, quando Otto Glória impôs o profissionalismo no Benfica, preferiu sair e jogar mais quatro anos como amador no Oriental, que levou à subida de divisão em 1956.
Em 1958, aos 35 anos, abandonou o futebol e passou a dedicar-se apenas ao negócio de venda de automóveis que iniciara com os proveitos da aventura carioca. O último jogo de campeonato fê-lo a 1 de Dezembro de 1957, uma derrota (0-1) com o Torreense no Eng. Carlos Salema, mas o último golo, a 24 de Fevereiro desse mesmo ano, tinha tido um adversário de predileção: marcou-o ao Sporting, de penalti, a consumar a que foi a última vitória dos grenás sobre os leões na história dos dois clubes (1-0).


P & R
AT: Qual foi o jogo da sua vida?
Rogério: Foi a final da Taça de Portugal em que ganhámos por 5-4 ao Sporting. Fiz três golos e ainda falhei um penalti. Houve também outra final, contra o Estoril, em que marquei quatro golos. Tenho o recorde golos em finais da Taça de Portugal, marquei mais do que o Peyroteo e o Eusébio.
AT: E o colega mais talentoso com quem jogou?
Rogério: Eram todos bons, naquele tempo eram todos bons… Havia o Moreira, o Chico Ferreira… Mas talvez posa destacar o Espírito Santo, que era o avançado-centro.
AT: Por fim, qual foi o adversário mais complicado que apanhou pela frente?
Rogério: Isso foi o Cardoso, do Sporting, que usava muito aquele truque de dar um empurrão nas costas sem o árbitro ver. Eu tinha muitas dificuldades com ele.