Foi complicado, mas Portugal conseguiu o apuramento para o Europeu de 2020. Fê-lo no relvado quase impraticável do Josy Barthel, com uma exibição sem brilho, a cumprir os mínimos olímpicos, mas a chegar para ganhar por 2-0 ao combativo e sempre organizado onze do Luxemburgo. A relva irregular dificultava a ligação do jogo português e encaminhava a seleção para um futebol mais direto, ao qual a equipa não estava a dar o devido seguimento. O 0-0 persistiu até ao momento em que Bernardo Silva encontrou Bruno Fernandes atrás da defesa luxemburguesa e este abriu o marcador, pouco antes do intervalo. Já perto do final, Ronaldo ainda fez o 2-0, não sem que antes a equipa nacional sentisse a carga nervosa do que significaria um golo sofrido: a Sérvia estava em vantagem ante a Ucrânia (e acabou por empatar) e um ponto não chegaria para a qualificação imediata.
É impossível analisar este jogo sem falar da relva. Irregular, com muitos tufos a saltar e a mudar a trajetória dos passes. Mole, a dificultar o equilíbrio e as receções. Com peladas que, pela lama, travavam a bola no seu curso normal. A relva era má para as duas equipas, mas dificultava mais o jogo mais apoiado de Portugal, mais apostado nas ligações interiores, pela presença de Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Pizzi. Organizada no mesmo 4x1x3x2 de quinta-feira, contra a Lituânia, a equipa nacional acabava por sofrer com o 4x2x3x1 de Luc Holz, que percebendo que os alas lusitanos procuravam sempre o espaço interior, dava ordem de soltura aos seus extremos, Turpel e Gelson, bem como aos laterais, sobretudo o direito, Jens. Portugal perdia um passe e saía logo uma transição rápida da equipa da casa, sempre junto às linhas laterais. E se Portugal reagia, evitando o tal jogo mais tricotado e apostando num futebol direto, sentia-se a falta de agressividade do meio-campo no ataque às segundas bolas, tendo o mesmo resultado: transição da equipa da casa, procurando as tais faixas laterais. O resultado foi que só aos 38′ Portugal passou para a frente em termos de remates (4-3, por essa altura). Um minuto depois, saiu o tal primeiro golo.
A primeira situação de perigo do jogo tinha sido na baliza de Rui Patrício, no entanto: logo aos 6′, Jens libertou-se no lado direito, de onde cruzou, para um cabeceamento do possante Deville, sobre a barra. Portugal respondeu aos 9′ por Ronaldo, se se soltou na esquerda mas chutou fraco para defesa de Moris. Só que aos 15′, foi mais uma vez o Luxemburgo quem esteve perto de marcar: Jens voltou a soltar-se na direita e Vincent Thill, no centro da área, rematou, contra Rúben Dias, acabando a bola por chegar a Rui Patrício. E com Portugal perdido na tal contradição (com jogadores de tricot mas a abusar de bolas altas para André Silva e Ronaldo), voltou a ser o Luxemburgo a visar a baliza, aos 25′: cruzou Thill e, de cabeça, Gérson atirou sobre a barra.
Só a partir daí é que Portugal conseguiu começar a controlar melhor o adversário. Ronaldo viu a relva levá-lo a acertar mal na bola, atirando muito torto, aos 27′. Pizzi, na sequência de um amorti de André Silva, atirou por cima, aos 32′. E aos 38′ Danilo colocou os portugueses à frente em termos de remates, atirando para fora depois de um cruzamento de Pizzi. Um minuto depois, Bernardo Silva foi buscar a bola bem dentro do meio-campo português e, vendo a corrida de Bruno Fernandes da meia esquerda para as costas do central do lado contrário, meteu a bola no espaço, onde o médio a controlou com a parte exterior do pé e, sem a deixar rolar muito, lhe deu de pé direito para o primeiro golo.
Golo da @selecaoportugal ! Bernardo Silva faz uma abertura genial e Bruno Fernandes tem uma recepção de classe e um remate indefensável para o primeiro golo da Seleção. pic.twitter.com/hN34g52dOv
— SPORT TV (@SPORTTVPortugal) 17 de novembro de 2019
Poderia pensar-se que estava feito o mais difícil, que o dique estaria aberto, mas as dificuldades não acabavam ali. Ao intervalo, Sérvia e Ucrânia até estavam empatadas, o que permitiria que Portugal se qualificasse com um empate também, mas ainda o segundo tempo não tinha chegado aos 10′ quando os sérvios marcaram o 2-1. E se Fonte, após canto de Pizzi, até estivera perto do 2-0, aos 50′, acabando por cabecear ao lado, Portugal acabou por continuar a revelar as mesmas dificuldades para ligar jogo. E aos 52′ Gerson trabalhou bem sobre Ricardo e foi à procura do ângulo superior esquerdo da baliza de Patrício, fazendo a bola passar um pouco sobre a barra. Era um aviso, que os portugueses levaram muito a sério. A começar por Fernando Santos, que aos 61′ trocou Pizzi por Moutinho e o 4x1x3x2 pelo 4x3x3.
O jogo, aí, fechou. Ficou dividido, mas na mesma perigoso, porque em qualquer bola parada, em qualquer bola bombeada para a área, o Luxemburgo podia fazer um golo e colocar Portugal no play-off. Holz optava por reforçar o ataque. Já tinha chamado Olivier Thill para o lugar de Turpel quando, aos 74′, trocou Barreiro pelo mais ofensivo Sinani. E aos 81′, depois de um livre que Ronaldo fez passar ao lado da baliza de Moris, meteu mesmo mais um ponta-de-lança em campo, trocando Vincent Thill por Joachim. A aposta era claramente na capacidade de ganhar duelos físicos perto da área e num golo que pudesse cair do céu. Literalmente.
Só que quem marcou acabou por ser a equipa de Portugal. Fernando Santos trocou André Silva por Jota, de forma a explorar a velocidade do atacante dos Wolves e a deixar de ficar tão exposto como estaria com Ronaldo sobre a esquerda, passando o capitão para o meio. E aos 86′, num ataque rápido, Jota serviu Bernardo Silva na direita, este cruzou e, embora o remate de Jota tenha saído atabalhoado, acabaria por entrar, mesmo sem a intervenção de Ronaldo, que apanhou a bola na linha e a chutou para as redes, assinando o 99º golo ao serviço da seleção.
Golo da @selecaoportugal ! Golo de @Cristiano ! Bernardo Silva abre para Diogo Jota que já muito perto do guarda-redes luxemburguês remata e o capitão já em cima da linha de golo confirma. pic.twitter.com/GyRSuz8GM4
— SPORT TV (@SPORTTVPortugal) 17 de novembro de 2019
Pouco depois, a Ucrânia marcava o golo do empate em Belgrado e a qualificação de Portugal ficava ainda mais segura. Já nada podia impedir a seleção de defender o título de campeão europeu em 2020.