Leonel Pontes é o novo treinador do Sporting, de forma interina, com o técnico madeirense de 47 anos a regressar à principal cadeira do clube de Alvalade, onde já se havia sentado em 2009. Agora, após a saída de Marcel Keizer do comando técnico dos Leões. Leonel Pontes esteve quatro anos fora de Portugal, regressou a casa e reentra pela porta grande. Um homem próximo dos seus jogadores, incansável no trato, de preocupação inesgotável e para quem todos são iguais. Seja Ronaldo, seja Luís Lourenço. O aluno que superou o mestre, mas procura ainda o primeiro grande sucesso na carreira.
“Era um treinador muito próximo dos jogadores, principalmente daqueles que viviam no lar do jogador. Passava, não digo as vinte e quatro horas do dia, mas se calhar… das 24… passava connosco algumas dezassete ou dezoito. Praticamente não descansava. Estava sempre preocupado para que não nos faltasse alguma coisa. Qualquer problema que tivéssemos durante a noite estava sempre disponível para ajudar e vinha logo resolver. Era um treinador muito próximo dos jogadores. Não só dos que viviam no lar, mas dos próprios jogadores. No meu ver isso irá trazer-lhe sucesso”, avalia Luís Lourenço. Para o antigo avançado, nem como professor Leonel Pontes baixava a exigência.
“Diferente é sempre, porque ser treinador é diferente de ser professor. Agora… em termos de exigência… a exigência era a mesma. Queria perfeição nas aulas de educação física, como queria perfeição e trabalho quando era treinador no clube. Mas não havia cá distinções. Se ele tivesse de me corrigir alguma coisa, fazia-o. Aliás, eu tinha de ser uma referência nas aulas de educação física. Tinha de dar o exemplo, porque na altura em que foi meu treinador nos iniciados, eu era o capitão. A exigência era sempre alta, fosse nas aulas, fosse nos treinos”, recorda ainda Luís Lourenço. A mesma exigência que lhe permitiu terminar o curso UEFA Pro-Nível 4 com a melhor nota do grupo, 17.5 valores, mais cinco décimas do que… Paulo Bento. O aluno superou o mestre. Pelo menos, na teoria.
Hoje com 47 anos, o percurso como membro de equipas técnicas iniciado nos anos 90 em Alvalade já lá vai. Leonel Pontes é treinador principal desde 2014/15, época em que se separou de Paulo Bento, técnico ao qual se juntou quando o antigo selecionador português assumiu o cargo de treinador dos juniores do Sporting em 2004/05. Desde então, e durante uma década, Leonel Pontes e Paulo Bento foram inseparáveis. Só o desejo de seguir o próprio rumo, após a saída do comando técnico da seleção portuguesa foi mais forte. Paulo Bento rumou ao Brasil, em 2016, mas aí já foi sem Leonel Pontes.
14 anos depois de ter chegado à equipa principal do Sporting ao lado de Paulo Bento, após anos nos escalões de formação do clube de Alvalade, Leonel Pontes está de regresso à equipa principal do Sporting. Clube ao qual voltou depois de passagens por Panetolikos, Ittihad Alexandria, Debreceni e FC Jumilla entre 2015 e 2019, ano em que regressou a Portugal para assumir a equipa sub-23 do Sporting da Liga Revelação. Cinco vitórias em cinco jogos abriram as portas da equipa principal do Sporting a Leonel Pontes, ainda que de forma interina, mas com os sub-23 na liderança da sua liga. Um sucesso que pode ser explicado pelas capacidades de Leonel Pontes enquanto líder e de gestor de personalidades. Próximo dos jogadores, afável no trato e de preocupação inesgotável com os jogadores, fossem ou não seus. Sempre com exigência máxima.
A proximidade com Ronaldo
A história é conhecida. Confirmada pelo próprio em várias entrevistas, do Jornal da Madeira ao Expresso. Não é segredo para alguém que Leonel Pontes foi um dos homens mais importantes na adaptação de Cristiano Ronaldo ao Sporting. Um tutor. Ronaldo tinha acabado de chegar a Lisboa, tinha saudades da família e o sotaque praticamente só era decifrado por Leonel Pontes que chegou mesmo a ser encarregado de educação daquele que é hoje um dos melhores jogadores do Mundo. “Fui diretamente responsável dos 12 aos 15 anos por ele, uma idade muito sensível. Falávamos bastante sobre a nossa terra, a mãe dele estava sempre em contacto comigo, o que fez com que acabasse por ser uma referência na vida dele”, afirmou o agora técnico interino do Sporting em entrevista passada ao Jornal da Madeira.
Fundamental na adaptação, sim, mas sem que isso alguma vez tenha significado despender menor atenção aos colegas de Ronaldo. Um tutor, mais do que um protetor, algo normal para Luís Lourenço. “Não diria que era propriamente um protegido, mas é normal que pudessem ter um carinho especial, porque estamos aqui a falar de dois conterrâneos. Proteger, protegia-nos a todos. Se calhar, pelo Ronaldo, não digo simpatia porque tinha simpatia com todos, mas tinha talvez uma atividade e proximidade maior, como tem hoje, porque são ambos da Madeira. É normal. Se eu tivesse comigo um jogador que fosse do meu país ou cidade, também ia ter maior afinidade com ele. Mas não era propriamente um protegido”.
Fosse Ronaldo ou Luís Lourenço, Leonel Pontes tratava todos por igual. “Ele tratava da mesma forma todos os jogadores, todos por igual, fosse ou não o Ronaldo. Até porque na altura o Ronaldo era o Ronaldo, sim, mas ainda não era o Ronaldo em que acabou por se tornar. Sabíamos que tinha talento, mas não sabíamos que ia chegar a este nível. Chegou com todo o mérito e fruto do trabalho dele, mas só mesmo o próprio pensava e acreditava que podia chegar a este patamar. Trabalhou para isso e o sucesso chegou naturalmente”.


Um formador desportivo, mas também humano
“É uma oportunidade justa depois de ter sido adjunto do Paulo Bento, primeiro nos juniores e depois na equipa principal. Regressou a casa para os sub-23 onde está a fazer um excelente percurso. Cinco vitórias em cinco jogos. Um trabalho excelente a corresponder às expetativas. Espero que as coisas corram bem, porque isso às vezes é uma questão de sorte, e que fique na equipa principal”. Luís Lourenço conhece Leonel Pontes como poucos. Com um percurso de formação efetuado totalmente no Sporting, dos infantis aos seniores, não foi só como treinador que Luís Lourenço conheceu Leonel Pontes.
“Tive três fases distintas com Leonel Pontes no Sporting. Quando chegou ao Sporting, na década de 90, foi treinar na equipa de infantis, como adjunto. Entretanto chegou a ser promovido a treinador dos iniciados. Até foi meu professor de Educação Física, na Escola Almirante Gago Coutinho. É verdade. Mais tarde foi responsável pelo centro de estágio onde viveu o Ronaldo, na antiga nave, no estádio antigo. Depois acabámos por nos encontrar uma última vez na equipa B do Sporting em 2002/03”, recorda-nos o antigo avançado.
Leonel Pontes foi fundamental no percurso de Luís Lourenço no clube de Alvalade. Nove golos em vinte jogos ao serviço do Sporting B, em 2002/03, foram determinantes para a chegada do então jovem avançado à equipa principal dos Leões. A derradeira temporada do percurso de formação de Luís Lourenço que em 2003/04 já jogou exclusivamente pela equipa principal do Sporting. “Fizemos uma boa época. Foi graças a essa boa época com o Leonel Pontes que consegui integrar a equipa principal do Sporting. Foi um treinador que sempre ajudou os seus jogadores. Falo por mim, deu-me sempre muitos conselhos”.
Um perfecionista ainda à procura da obra mestra
Com a saída de Marcel Keizer, Leonel Pontes regressa agora a uma cadeira em que sentou por altura da saída de Paulo Bento do Sporting, e enquanto Carlos Carvalhal não assumia o posto. Então a oito de novembro de 2009, em jogo a contar para a 10ª jornada da liga portuguesa, Leonel Pontes orientou pela primeira e, até agora, única vez, a equipa principal do Sporting. O jogo terminou 2-2, com golos de João Tomás para o Rio Ave e de Moutinho e Matías Fernández para o Sporting.
Regressou a Alvalade pela mão de Hugo Viana, jogador que ajudou a formar nos escalões jovens do Sporting, cinco anos depois de se ter tornado treinador principal. Se, em 2006, assumiu ao Jornal da Madeira que ainda não pensava em ser treinador -, por entre palavras de orgulho pela influência que teve na formação de Ronaldo, Quaresma e Hugo Viana -, Pontes demorou oito anos a mudar de ideias e foi quando Paulo Bento deixou a seleção nacional que sentiu ser a hora certa de trilhar o próprio caminho.
A estreia, como treinador principal, aconteceu na Madeira, onde nasceu. Assumiu o Marítimo no início da temporada 2014/15, mas não a terminou. Orientou o Marítimo em 30 jogos, mas deixou o comando do emblema insular a dois de março somando 13 vitórias, 13 derrotas e quatro empates durante esse período, e com o Marítimo instalado na 11ª posição da tabela. Não ultrapassou a fase de grupos da Taça da Liga e caiu aos pés do Nacional, nas grandes penalidades, nos quartos de final da Taça de Portugal. “Houve uma posição firme do treinador em colocar termo à ligação com o Marítimo e o Marítimo aceitou a pretensão dele. Temos de agradecer a elevação do treinador e desejar-lhe as maiores felicidades”, afirmou então Carlos Pereira. Foi substituído por Ivo Vieira.
Do Marítimo rumou à Grécia. Assumiu o comando técnico do Panetolikos em junho de 2015, mas durou apenas cinco jogos à frente do clube grego. Não resistiu a uma derrota pesada por 5-1 na casa do AEL Kalloni apesar de até ter entrado na quinta jornada da liga grega de 2015/16 na segunda posição. Deixou o Panetolikos em sexto lugar depois de duas vitórias, duas derrotas e um empate e com a imprensa grega da altura a atribuir o despedimento, precisamente, a esse desaire copioso.
Leonel Pontes não durou muito no mercado. Dois meses após a saída do futebol grego, sucedeu-se a primeira experiência fora da Europa. Assumiu o Ittihad Alexandria entre as jornadas seis e 21 da principal liga egípcia, mas deixou o clube quatro meses depois com este embrenhado numa série de sete derrotas consecutivas. Se Pontes pegou no Ittihad Alexandria com o clube instalado na nona posição, deixou-o em décimo quarto lugar, apenas duas posições acima da linha de água.
O regresso à Europa deu-se na temporada seguinte, em 2016/17, quando assumiu o comando técnico do Debreceni já com a época em andamento. Leonel Pontes pegou no clube húngaro à quarta jornada, chegando a acordo para a rescisão de contrato com o emblema magiar após a penúltima ronda fruto de uma derrota pesada por 5-2 sobre o histórico Honvéd, então primeiro classificado da liga húngara, jogo onde nem agressões entre dois dos seus próprios jogadores faltaram. Insucesso que, ao Expresso, justificou com a falta de controlo que teve sobre o planeamento da época do clube.
“A construção do plantel e da época foi feita antes de nós entrarmos e não conseguimos trazer alguns jogadores que achávamos que iriam dar mais qualidade ao plantel. Tivemos então uma 1ª volta difícil, sem tradutor, ainda por cima. Tivemos bons jogos, mas muitas dificuldades em fazer golos, fomos pouco consistentes nesse aspeto. No mercado de inverno entraram cinco jogadores e saíram 11. Os que entraram não corresponderam às expectativas porque não jogavam há muito tempo. A lista de reforços que pedi não foi a que me deram. Pensávamos que ficaríamos mais fortes, mas não. Fomos irregulares no campeonato. (…) Há uma tentativa constante de se intrometerem no trabalho do treinador e isso é uma luta e um desafio todos os dias”, afirmou em 2017.
E foi depois de um 2017/18 em que não treinou que Leonel Pontes se aproximou de Portugal. Em julho de 2017 foi apresentado como treinador do FC Jumilla, então clube da terceira divisão espanhola com fortes ligações ao Wolverhampton Wanderers. O técnico madeirense orientou o Jumilla em toda a temporada 2017/18, mas não evitou a queda do clube à quarta divisão depois de uma derrota no play-off de manutenção perante o Real Unión, a duas mãos. Se na primeira mão, em casa, a equipa de Leonel Pontes ainda arrancou um empate a dois golos, na segunda, não foi além de uma derrota por 2-0. 40 jogos, 11 vitórias, 11 empates e 18 derrotas acabou por ser o saldo de Leonel Pontes ao comando do emblema espanhol.
Agora, aos 47 anos, Leonel Pontes volta agora a ter a oportunidade de orientar a equipa principal do Sporting, meses depois de ter regressado a casa. Um desafio, à altura, fácil de aceitar: “Foi um desafio fácil de aceitar. Sensibilizaram-se para o que seria uma nova etapa de Sporting com alterações estruturais. Assumir o comando da equipa sub-23 foi uma decisão fácil face ao meu historial enquanto profissional do Sporting durante muitos anos. Cresci nesta casa, foram 15 anos a trabalhar em todos os escalões da formação do Sporting e quatro no futebol profissional”, afirmou aquando da apresentação como novo treinador dos Sub-23 do Sporting, equipa que liderou em cinco vitórias em tantos outros jogos da presente edição da Liga Revelação.

