Será um duelo de estilos, aquele que Inter e Sevilha FC irão protagonizar na final da Liga Europa, amanhã, em Colónia. Duas equipas com formas bem distintas de ver e executar o jogo, mas ambas bem-sucedidas – ou não estariam na final. Há um Sevilha FC, que quer ter bola e mandar no jogo, e um Inter vertiginoso, que faz da organização e da eficácia as suas grandes armas. O Shakhtar Donetsk de Luís Castro que o diga.
Fruto do sexto lugar alcançado na Liga Espanhola em 2018/19, o Sevilha FC entrou na Liga Europa diretamente na fase de grupos e, desde então, tornou-se na equipa que mais bola recolheu, em média, por jogo. Nenhuma das equipas que participaram na edição deste ano da competição regista uma percentagem de posse de bola média superior aos 68,7% registados pelo conjunto orientado por Julen Lopetegui. Por aqui se vê claramente a diferença de estilos entre os dois conjuntos. É que, o Inter, na Liga Europa, regista uma média de 48,1% de posse de bola.
Uma postura diferente daquela que mostra em solo doméstico, já que na Liga Italiana o conjunto nerazzurro tem uma média de 54,3% de posse de bola média. Curiosamente, a questão é inversa no caso do Sevilha FC: na Liga Espanhola, a equipa de Lopetegui é mais prudente e cede mais vezes a bola ao adversário, já que terminou a Liga 2019/20 com 56,9% de média de posse de bola, praticamente menos 12% do que a média que regista na Liga Europa.
O Inter, porém, tem mostrado que não é por não ter muita bola deixa de criar oportunidades de golo. Bem pelo contrário. Frente ao Shakhtar, por exemplo, a equipa de Antonio Conte registou apenas 37,2% de posse, mas venceu por 5-0. O encontro frente à equipa de Luís Castro é mesmo a melhor ilustração do Inter desta Liga Europa: uma equipa de pouca posse, mas de extrema eficácia. Afinal, contra o emblema ucraniano, o Inter Milão marcou cinco golos para um índice de golos esperados de somente 1,54. Em teoria, uma equipa “normal” marcaria um ou dois golos naquele jogo face às oportunidades construídas. O Inter marcou cinco.
Ora, essa eficácia tem sido constante na Liga Europa. Até ao jogo com o Shakhtar Donetsk, o Inter Milão tinha 13 golos marcados na competição (entrou somente nos dezasseis-avos de final, depois de não ter ido além do terceiro lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões) para um índice de golos esperados de 7,79. Ou seja, face às oportunidades de golo criadas pela equipa de Antonio Conte, seria de esperar que o Inter tivesse à volta de oito golos, mas fruto da eficácia e qualidade do seu setor ofensivo, o conjunto nerazzurro registou praticamente o dobro. Tanto que é mesmo a equipa da Liga Europa com a maior média de golos por jogo: 3,02. Em jeito de comparação, o Sevilha FC apontou 20 golos nesta Liga Europa, para um índice de golos esperados de 21,89. Ou seja, não foi uma equipa particularmente eficaz, mesmo tendo contrariado essa tendência na meia-final contra o Manchester United.
Apesar dessa falta de eficácia, o Sevilha FC tem sido uma equipa dominadora na Liga Europa desta temporada. Só o Dínamo Kiev terminou a edição com uma média de remates por jogo superior à do conjunto espanhol (18,3 versus 17,5), mas nenhuma – como vimos – registou uma média de posse de bola superior, nem uma percentagem de acerto de passe superior. Só o Shakhtar Donetsk de Luís Castro chegou perto dos registos do Sevilha FC em termos de passes acertados: 86,6% versus 88,7%.
Já o Inter Milão registou uma média de 14,4 remates por jogo na Liga Europa, o décimo primeiro registo mais elevado da competição esta temporada. Mais uma vez sintomático da eficácia goleadora da equipa de Conte, já que, como vimos, é neste momento aquela que mais golos por jogo marcou. Tudo isto, com o 38º registo mais elevado de posse de bola média e o 11º em termos de acerto de passe, evidenciando mais uma vez a diferença de estilos entre os dois conjuntos.
Sevilha FC e Inter Milão são ainda duas das equipas que mais golos marcaram na Liga Europa fruto da organização ofensiva. Só o Manchester United e o FC Basileia fizeram mais golos em situações de bola corrida do que o Sevilha FC, sendo que a estes se juntam ainda o Wolverhampton Wanderers e o Arsenal, ambos à frente do Inter Milão que é, por isso, a sexta equipa com mais golos nascidos de “open plays” da Liga Europa. E, ao contrário do que poderia ser de esperar, a equipa de Antonio Conte não marcou nenhum golo até agora oriundo de lances de contra-ataque puro, tendo apenas um golo de bola parada e um de penálti. É, aliás, na bola parada que reside também um dos pontos fortes do Sevilha FC, já que a equipa de Lopetegui tem quatro golos nascidos de situações de bola parada. Só Eintracht, Wolves e LASK fizeram mais golos do que a equipa espanhola nesta situação.
Significativa é também a utilização do corredor central para a construção do volume ofensivo de cada uma das equipas. Enquanto o Inter Milão canaliza muito do seu ataque pelo centro do terreno, o Sevilha FC é uma equipa que procura a largura do campo. Não é, por isso, surpresa, que o Sevilha tenha o sétimo maior registo de cruzamentos por jogo da Liga Europa, enquanto o Inter é somente o 41º clube neste aspeto. O Inter é, aliás, a sétima equipa que mais ataca pelo corredor central, com 29% dos seus ataques a terem sido construídos por aí, em comparação com os 26% do Sevilha, o 16º maior registo da competição.
Os 41% de ataques pelo corredor direito registados pelo Sevilha são, por outro lado, um dos maiores registos da Liga Europa. Já os 34% de ataques pelo corredor esquerdo registados pelo Inter Milão são um dos registos mais baixos da competição. Só seis equipas atacaram menos por este corredor em comparação com os outros dois, com o conjunto italiano a ter o 36º maior registo % em termos de ataques pelo corredor direito, sinal claro da preferência pelo corredor central que a equipa de Antonio Conte regista. Aliás, 72% dos remates feitos pelo Inter na Liga Europa tiveram origem no corredor central. Só quatro equipas registaram uma percentagem superior.
Sintomático do espírito dominador com que participou na competição é também o número de passes curtos registados em média pelo Sevilha: 627 por jogo, o maior registo da competição. Também aqui se percebe a diferença de estilos já que o Inter regista somente o 21º maior registo de passes curtos por jogo. Ainda assim, isso não faz do conjunto italiano uma equipa de bola longa, bem pelo contrário. Como vimos, a posse do Inter é curta em tempo, mas também em distância já que o emblema italiano é a segunda equipa da prova com a menor média de passes longos por jogo, somente atrás do… Benfica. O Sevilha, por seu lado, tem o 11º menor registo sintomático de duas equipas que procuram jogar curto quando organizam os seus ataques.
Ainda assim é também clara a diferença de como as equipas processam a sua organização ofensiva. O Sevilha é a sétima equipa da Liga Europa com o maior registo de cruzamentos por jogo, enquanto o Inter é somente o 41º e, por isso, uma das equipas da presente edição da prova que menos cruzamentos faz por jogo. São, ainda assim, duas equipas cujo volume de ações é maior, em percentagem, em território adversário. 33% das ações protagonizadas pelo Sevilha na Liga Europa aconteceram no seu terço ofensivo, o quarto maior registo da competição. Já o Inter protagonizou 29% das suas ações no terço do adversário, o 14º maior registo da competição.
Isto é também ilustrativo daquilo que é o comportamento sem bola das duas equipas. O Sevilha procura condicionar a construção adversária bem subido no terreno, enquanto o Inter opta por uma pressão em bloco médio ou, simplesmente, reorganiza atrás e espera pelo adversário. Enquanto o Sevilha permite apenas 6.6 passes ao adversário até protagonizar uma ação defensiva, esse número sobe aos 11.07 no caso do Inter Milão, sinónimo de uma pressão pouco agressiva aquela que é feita pela equipa de Conte. Não confundir isso, porém, com eficácia na pressão. Mais uma vez, que o diga o Shakhtar, Luís Castro, Stepanenko e Pyatov. Tanto, que o Inter tem o 12º maior registo de ações no miolo do terreno em percentagem das suas ações totais. O Sevilha? 25º, sendo a equipa de Lopetegui aquela que menos % do total de ações realizou no seu terço defensivo em toda a edição da Liga Europa. Mais uma vez, exemplificativo da prestação dominadora da equipa Andaluz na competição.
Quando Inter e Sevilha subirem ao relvado do RheinEnergieStadion em Colónia irão estar frente a frente dois dos conjuntos com maior sucesso internacional nos últimos anos, mas acima de tudo duas equipas que exemplificam na perfeição a ideia de que, no futebol, não existe apenas um caminho a levar ao sucesso. Duas filosofias e identidades bem distintas numa final de Liga Europa que será um verdadeiro confronto de estilos.
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