Não vou aqui alongar-me acerca dos detalhes relativos aos prazos de pagamento acordados entre Sporting e SC Braga para a transferência de Rúben Amorim. Não tenho o contrato e até quem o tem – no caso os serviços jurídicos das duas SADs… – consegue olhar para ele e ver lá coisas diferentes: em Lisboa acham que o prazo de pagamento era um, em Braga que era outro, mais curto; em Braga consideram que uma prestação falhada obrigava ao pagamento imediato do IVA, em Lisboa que não senhores, que o IVA só venceria lá muito mais para a frente. Portanto, se o que procura deste artigo é saber quem tem razão, lamento, mas a única coisa que posso dizer é que, na minha perspetiva, ninguém está a portar-se bem. No Sporting não estão a cumprir, em Braga falham na coerência.
Não está a portar-se bem o Sporting, por razões mais ou menos evidentes. Era suposto fazer um pagamento e não o fez – e já se sabe que quem não tem dinheiro não tem vícios, muito menos vícios caros, como a contratação de um treinador relativamente inexperiente por um valor astronómico, que faz dele o terceiro mais caro da história do futebol mundial. Ora no ato de apresentação de Rúben Amorim, Frederico Varandas falou do alto da sua posição para dizer que ninguém temesse, porque aqueles valores estavam orçamentados. Eu, do lado de cá, acreditei, limitando-me a questionar o risco da operação e a salientar o que era uma evidência: a de que o dinheiro existia, sim senhores, mas que podia ser aplicado no reforço do plantel em vez de ser todo ele encaminhado para o treinador, que é um ativo pelo qual a gestão Varandas tem tido pouco respeito.
Afinal – e ainda não percebi bem se o Sporting não pagou porque não quis ou porque não consegue… – parece que esse dinheiro não existia. Ou melhor: dizem os leões que ele estava para entrar e travou na pandemia. Mas como, à exceção do tal milhão de euros que está para chegar do Sport Recife por André (há muitos anos que está por chegar, de resto) e do jogo em casa com o FC Paços de Ferreira (que seria o único a realizar em Alvalade no que já lá vai de quarentena), para o qual não se previa grande enchente, não se conhecem mais casos de receita não realizada pelos leões, é ao menos legítimo que se coloque esta versão em dúvida. Não legal, mas pelo menos moral. É que é preciso ter muita lata para contratar um treinador por dez milhões de euros e depois falhar o primeiro pagamento por causa das razões acima descritas.
E o SC Braga? Afinal, os minhotos são aqui os prejudicados – estavam a contar com uma verba avultada, por terem perdido o seu treinador, mas ficaram apeados. O que pode haver de condenável na vontade de aproveitar este incumprimento para fazer subir a conta, como está a fazer António Salvador, se ainda por cima a penalização estava inscrita no contrato? Acontece que o presidente bracarense foi o criador e principal impulsionador da medida a que os clubes chamaram “pacto de não agressão”, mediante a qual todos se comprometem a não contratar jogadores que tenham rescindido contratos com os rivais, mas que mais não é do que uma forma de cartelização para os proteger em caso de incumprimento. Salvador pode ter toda a razão do Mundo no caso de Amorim, mas acaba por estar a provar o veneno que ele mesmo ajudou a soltar. Isto anda tudo à rasca e ninguém pode levar a mal. Ou isso só se aplica quando quem fica a arder são os futebolistas?
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