A força de uma equipa vê-se também na inevitabilidade dos seus golos, da mesma forma que a sua fraqueza se revela na inevitabilidade dos golos dos adversários. O que o FC Famalicão fez ontem em Braga, colocando-se em vantagem quando já estava reduzido a dez jogadores, e depois chegar ao empate quase em cima do apito final, depois de ter visto o SC Braga virar o placar, é força. O que o FC Porto fez perante o CD Aves, numa noite de nervoseira e fraca inspiração, ganhando apenas por 1-0 mas sem consentir veleidades ao adversário, também é força. O que aconteceu ao Sporting em Tondela, onde mandou em todo o jogo mas criou apenas uma situação de perigo, acabando por sofrer o golo da derrota num erro defensivo a dois minutos do final, é fraqueza.
É preciso não confundir as coisas, que nestas coisas o futebol é bastante mais simples do que parece e resulta da combinação entre os resultados e o estado de espírito das equipas. No Dragão, o estado de espírito não anda grande coisa, como se viu na reação escatológica de Sérgio Conceição ao empate na Madeira, a meio da semana. Tal como contra o Marítimo, o FC Porto voltou a jogar pouco ontem frente ao CD Aves – e o próprio treinador o admitiu, ainda que desta vez sem derivas, porque o resultado foi bom e a frustração não veio à tona na conferência de imprensa – mas marcou cedo e não deixou sequer o adversário chegar perto da baliza de Marchesin. Afinal de contas, o FC Porto só sofreu golos em três dos dez jogos desta Liga – melhor só mesmo o Benfica, que manteve oito balizas invioladas – e isso é meio caminho andado, porque permite à equipa partir de uma base estável para ir em busca do resultado.
Essa nem é bem a receita do FC Famalicão. Ali, o segredo é acreditar em milagres. Porque se é verdade que a equipa tem de ter qualidades, individuais e coletivas, o que ela fez ontem em Braga foi ainda mais imponente do que aquilo que tinha feito em Alvalade ao Sporting – e já explico por que razão. Em Braga, o FC Famalicão viu-se reduzido a dez homens, por expulsão de Roderick Miranda, chegou mesmo assim à vantagem, mas aconteceu-lhe a seguir o pior pesadelo de qualquer equipa nestas circunstâncias: viu Galeno marcar por duas vezes em quatro minutos, virar o resultado no último quarto-de-hora e mudar o ascendente psicológico de lado. Mesmo assim, o FC Famalicão, cuja maior força é ter marcado em nove dos dez jogos que leva esta Liga – embora tenha sofrido sempre nos últimos oito – ainda foi capaz de ir buscar um ponto que vale mais ainda como afirmação de personalidade e de capacidade. E, sim, é preocupante para um SC Braga que, por duas vezes, não conseguiu conter um rival a jogar com um homem a menos.
Muito preocupante também é a situação do Sporting. Percebo que Jorge Silas queira reforçar o que a equipa fez bem no jogo em Tondela, porque precisa que os jogadores acreditem no processo, mas o facto de o Sporting ter controlado sempre o jogo não o mantém seguro – e essa é a maior fraqueza de uma equipa que só tem uma baliza inviolada em dez jornadas, contra as sete do FC Porto e as oito do Benfica. Quando o Sporting joga, há uma coisa que é certa: pelo menos um golo na baliza de Renan. E ele surge mesmo em jogos onde o adversário quase não tem bola ou situações de golo, como foi o caso ontem, nem que para tal sejam precisos erros defensivos como o cometido por Ristovski e Camacho, incapazes de segurar Wilson ao segundo poste num livre batido quase do meio-campo. A questão é, depois, aquilo que o Sporting não criou. Porque ter 64 por cento de posse de bola, sete cantos contra um e fazer a esmagadora maioria dos seus remates de fora da área, criando apenas uma situação de golo iminente em 90 minutos é outro sinal de fraqueza que deixa o Sporting muito abaixo de Benfica e FC Porto e, pasme-se, até do FC Famalicão. Tal como na classificação.