Com a aquisição de Evanilson, o FC Porto ganha não apenas um jovem avançado com dotes de finalizador, mas também alguém que nunca está parado dentro de campo e que se destaca pelo que oferece à equipa no processo defensivo. Apontado como um dos mais promissores jogadores do futebol brasileiro, aos 20 anos, bastaram poucos meses na equipa principal do Fluminense para Evanilson convencer os azuis e brancos a apostar na sua contratação. A verdadeira explosão de golos deste atacante deu-se apenas no último ano de formação, depois de passar algo despercebido e de ter rumado ao segundo escalão eslovaco na sequência do falecimento da mãe, tragédia que o fez considerar deixar o futebol e não cumprir o sonho que a mãe tinha para ele. Ainda assim, arranjou forças para continuar e torná-lo realidade.
“As minhas principais caraterísticas são a velocidade e o facto de, mesmo sendo um jogador bastante ofensivo, ajudar muito na marcação. Ajudo bastante a equipa e vim para aqui fazer isso. Quero marcar muitos golos para ganharmos muitos títulos.” Foi desta forma que Evanilson se apresentou aos adeptos dos dragões através do site oficial do clube, após a confirmação da assinatura com os azuis e brancos por cinco épocas. O avançado chega à Invicta com um repertório de oito golos em 22 jogos oficiais pelo Fluminense em 2020, entre o Campeonato Carioca, o Brasileirão, a Taça Sul-Americana e a Taça do Brasil. Teve mesmo estatuto de titular em 19 dessas partidas e era o segundo melhor marcador da equipa, somente atrás de Nenê (15 golos).
Uma das armas que Evanilson traz para a Liga Portuguesa é a capacidade de finalizar seja de pé direito ou esquerdo. “Algo a destacar no Evanilson é que ele finaliza muito bem com qualquer um dos pés. Apesar de ser destro, também marca muitos golos com o pé esquerdo. É muito forte fisicamente, mas apesar disso tem velocidade. Não é aquele ‘nove’ lento”, começou por descrever-nos Paula Carvalho, jornalista da Globo que acompanha o dia-a-dia do emblema Tricolor. A experiência que tem começado a ganhar como sénior já se nota no futebol de Evanilson. “Apesar de ser ainda muito jovem, neste início de ano já se notou uma evolução dele no que toca a posicionamento e ele está a tornar-se num daqueles avançados com ‘malandrice’, ou seja, que dão dores de cabeça aos defesas adversários. Gosta de jogar de frente para a baliza e procura muito o golo”, acrescentou a jornalista.
Curiosamente, Evanilson até jogou como extremo, pela direita e esquerda, durante algum tempo, nas camadas jovens do Fluminense, mas foi no centro do ataque que descobriu a veia para o golo, no último ano de formação. Sérgio Conceição conta, assim, com uma opção habituada a jogar como referência do ataque, à semelhança do papel que Soares tem tido no esquema azul e branco. Isto num leque que conta ainda com Taremi (contratado esta temporada), Marega, Zé Luís e Aboubakar, já para não falar na chegada iminente de Toni Martínez (FC Famalicão) ao Dragão. Por Evanilson, a imprensa brasileira avança que o FC Porto terá dado entre sete e oito milhões de euros, quantia que faz antever a confiança depositada no canarinho.
“É um avançado muito moderno, movimenta-se muito, dá várias opções de passe, corre o jogo todo, dá-se à equipa e tem muita qualidade na finalização, sempre bem posicionado. Foi o melhor jogador do Fluminense em 2020, sem a menor dúvida. Apesar da média de golos não ser exuberante, ele não é apenas um jogador de finalização ou de dar o último toque, ele ajuda até na marcação, cai também nas alas. Se ele repetir o desempenho do Fluminense no FC Porto, ficará lá pouco tempo. Foi uma grande aquisição”, salientou-nos Leandro Dias, fundador do Netflu, um portal exclusivo de notícias do Fluminense. Como ponto a melhorar, Leandro apontou o jogo aéreo, no qual Evanilson “ainda não é um jogador tão eficaz”. “Tem de trabalhar nisso”. Ainda assim, a saída deste jovem tem deixado marca nos adeptos do Tricolor. “É um dos principais avançados que o Fluminense revelou nos últimos anos e aqui os adeptos do clube estão lamentando muito e criticando a direção pela perda desse jogador.”


A tragédia, dar a volta por cima e os golos
Com percurso nas camadas jovens do Fluminense, Evanilson chegou ao clube do Rio de Janeiro proveniente do Estação-CE, uma equipa sem dimensão da cidade de Fortaleza, depois de se destacar num Campeonato Cearense de Sub-13. Então, apenas com 13 anos, Evanilson teve de deixar a família para partir em busca do sonho de ser futebolista. “O Fluminense foi buscá-lo ainda muito novo para atuar nas camadas jovens. Veio de um clube chamado Estação, de Fortaleza, um clube muito pequeno. Veio ainda adolescente, mas nunca conseguiu muito destaque. Isso só aconteceu após um empréstimo que ele teve ao STK Samorin, da Eslováquia, com o qual o Fluminense tinha uma parceria na altura. E lá teve um desempenho razoável”, contou Leandro Dias.
Ora, é muito provável que esteja a questionar a razão pela qual um jovem jogador deixa o Brasil rumo à Eslováquia e nem ser para jogar no principal escalão. A verdade é que o rendimento caiu muito em 2017 e ele perdeu espaço nos Sub-20 do Fluminense, situação para a qual contribuiu o falecimento da mãe, Madalena, que era um dos pilares da vida do jogador. Tal era a ligação do jogador à família e à mãe que, em Cajazeiras, bairro em Fortaleza onde cresceu, é conhecido por “bebé”.
“Atrapalhou muito o meu rendimento. Esqueci o futebol, esqueci o mundo todo. Eu fui para Fortaleza, não queria nem mais voltar para cá. Pensei em desistir do futebol, mas a minha família e a minha esposa apoiaram-me. Só voltei porque a minha esposa e os meus empresários deram-me muita força. Por mim, eu teria ficado por lá. Nem queria voltar mais. Mexeu comigo bastante, o meu rendimento caiu muito. Daí eu fui para a Eslováquia e foi onde eu reencontrei o meu futebol, voltei de lá com outra cabeça. Voltei a atuar bem, fazer golos, mas abalou muito… Eu pensei em parar. Foi um momento muito difícil, mas tenho a certeza de que ela está vendo o meu destaque agora e com certeza está muito orgulhosa”, recordou recentemente o atacante em conversa com o Globoesporte.


No STK Samorin, Evanilson disputou apenas seis partidas e nelas conseguiu marcar três golos e fazer ainda uma assistência. Por lá tinha também um grande núcleo de compatriotas no plantel, devido à tal parceria existente entre o clube eslovaco e o Fluminense. Foi quando regressou à casa-mãe que se deu a afirmação plena. “Começou, de facto, a destacar-se no primeiro semestre do ano passado, quando foi o melhor marcador do campeonato carioca de Sub-20, com praticamente uma média de um golo por jogo. Também fez um campeonato brasileiro Sub-20 muito bom”, referiu-nos Leandro Dias. Foram 28 os remates certeiros de Evanilson pelos Sub-20 do Fluminense em 33 encontros durante 2019, ano em que apontou ainda dois golos em três jogos pela equipa principal no Brasileirão (ambos contra o Corinthians na última jornada).
Algo que até pode ter passado despercebido aos mais distraídos é o facto de Evanilson não pertencer ao Fluminense aquando da transferência para o FC Porto, mas sim ao Tombense. Confuso? Pois bem, no fim de 2019 o contrato do avançado com o Tricolor terminou e foi então que entrou em cena Eduardo Uram, um dos empresários mais badalados do futebol brasileiro. “O Fluminense não apostou que ele vingaria, não renovou o contrato e ele acabou a assinar um pré-contrato com o Tombense, de Minas-Gerais, que é de um empresário chamado Eduardo Uram. Ele usa o clube apenas como uma forma de registar os jogadores, já que os empresários não podem ter direitos federativos”, contou-nos Leandro Dias. As boas relações, já confirmadas, com Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, fizeram com que Evanilson continuasse no Flu em 2020, mas desta feita por empréstimo, pelo que o Tricolor não vai lucrar muito com esta venda, o que tem indignado também os adeptos.
Por falar em lamento dos adeptos do Fluminense, outra razão pela qual isso acontece tem por base a capacidade de trabalho de Evanilson e também o comportamento que vinha a ter com a camisola Tricolor. “É muito querido internamente, super trabalhador, dava-se bem com todo o plantel, a equipa técnica… Até quando jogava mal ele batalhava e corria muito em campo. Então essa questão de dedicação é um dos pontos pelos quais é reconhecido. Muito simples, humilde e amigável”, reconheceu-nos Paula Carvalho. Agora de dragão ao peito, Evanilson prepara-se para realizar mais um sonho. “Estou muito feliz. É um sonho de criança que realizo, estar num clube gigante do futebol europeu, como o FC Porto, deixa-me muito feliz e orgulhoso do meu trabalho. Graças a Deus deu tudo certo, agora vamos para cima.”
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