Um dos temas que tem animado a discussão de bastidores no futebol nacional, tanto por força do diferendo entre o Belenenses e a B SAD como pelo surgimento de defensores de uma suposta “modernidade” no Sporting, é a questão da maioria do capital das SAD. Há gente claramente a favor da cedência da maioria por parte dos clubes a grandes investidores, argumentando que ninguém investirá a sério a não ser que tenha controlo total sobre a estratégia e as contas, como há quem nas oposições sustente que a política das atuais direções é de enfraquecimento para depois poderem vender as SAD e fazer passar essa medida polémica em Assembleias Gerais cheias de adeptos frustrados e sequiosos de vitórias. Devo dizer que sou e serei sempre contra esse “modelo moderno”. Defendo que o futuro é para o outro lado e achei curioso que venha precisamente de Inglaterra um estudo que aponta a inversão de caminho, apelando à participação dos adeptos no capital dos clubes como forma de os salvar – sobretudo os que não competem na Premier League e que, por isso, estão num patamar inferior no que toca a receitas.
O relatório em causa chama-se “A Sporting Chance” [“Uma Oportunidade para o Desporto”], foi elaborado pela Onward e abrange o futebol profissional abaixo da Premier League, mas também o rugby e o críquete, prevendo que a continuação do atual estado de coisas leve ao “colapso de numerosos clubes” e à “perda da herança desportiva e cultural que eles representam para muitas cidades”. Will Tanner, diretor da Onward, que trabalhou no governo de Theresa May, revelou mesmo ao The Guardian que vai conversar com membros do atual executivo no sentido de fazer passar as suas recomendações. “As contas de muitos clubes são opacas. Muitos dependem de patronos e não de modelos de negócio sustentáveis. Ora os adeptos investem muito emocionalmente todas as semanas, pagam preços de entrada cada vez mais elevados: devia ser-lhes atribuída mais responsabilidade”, disse ainda Tanner, que aponta o exemplo da Bundesliga e da regra dos 50+1 como boas práticas. “Recomendamos que estes adeptos sejam donos de parte dos clubes e que sejam envolvidos na sua gestão. Achamos que o governo deve encorajar isso mesmo”, conclui.
Ora para quem admite claramente que o futebol é um negócio e uma indústria, como é o meu caso, poderia haver aqui uma contradição. Mas não há. Porque, além de ser um negócio e uma indústria, o futebol é acima de tudo um jogo, onde o objetivo é ganhar… no campo. Há (muito) dinheiro envolvido, mas a razão principal para a atividade dos clubes e dos jogadores é a obtenção de vitórias desportivas e não financeiras – as contas devem preferencialmente dar “empate” entre custos e proveitos. É essa a razão pela qual se explica que três meses sem receitas possam levar as SAD a uma situação desesperante. E quem se contradiz aqui são os defensores do futebol anti-negócio, do futebol por amor à camisola e ao desporto apenas, ao dizerem coisas como: “Mas eles não deviam ter uma almofada de conforto para aguentarem momentos de crise como estes?” Não. O desespero do futebol, a necessidade de se voltar a jogar tem a ver com o facto de a gestão de um clube dever ser feita no sentido de ganhar no campo, ainda que sem comprometer as contas… em situações que sejam normais – e a Covid19 provocou ou vai provocar o colapso nas mais diversas áreas de negócio que vivem nos limites.
Porque uma coisa é a aplicação de técnicas de gestão modernas e responsáveis às SAD e outra, bem diferente, é transformá-las em empresas no sentido frio e estrito da palavra. No dia em que aceitarmos a abordagem puramente empresarial, o lucro passa a ser um objetivo tão legítimo como o sucesso desportivo. No limite, um ano de sucesso pode ser marcado pela descida de divisão desde que se tenha feito um valor interessante em mais-valias no mercado de transferências e isso permita distribuição de lucro pelos acionistas. Ridículo? Não é. E quem pode fazer a defesa dos valores desportivos nos clubes a não ser quem neles investe emocionalmente? Os adeptos, ora aí está. Podem nem ter muito dinheiro para empatar, mas a verdade é que são muitos e são cada vez mais aqueles que têm capacidade para inverter qualquer coisa, seja em ações ou em unidades de consumo (bilhetes, merchandising, TV por assinatura etc.). Sim, o futuro não é por onde muitos pensaram durante anos que ia ser. É precisamente pelo outro lado.
E se antes o Futebol for por outro lado..!
Que futebol queremos quando investidores, treinadores e jogadores pertencem aos mesmos ” CEO’s”?
Numa velha máxima velha máxima de “de quem não é nosso..! é inimigo..! ” assim como “não podes com eles.? junta te a eles.!” a somar a uma certa cobardia/hipocrisia de umas centenas de pessoas com responsabilidades no futebol que lhes dando lucro e retorno continuam a a defender que a “terra é plana”.
Dasafiava “às gentes” do futebol jogadores, directores, árbitro, treinadores, empresários e etc. bem como todos os agentes e ex agentes desportivos de uma forma honesta séria e sem medo dos lobies ou casiques trouxessem a público aquilo que foram testemunhando ao longo das suas carreiras..!
P. S.
Mas era importante fazermos essa “viagem” passando pelo branqueamento de capitais, fuga aos impostos, jogos online e casas de aposta etc. etc
Seremos capazes..?