Já todos percebemos que o Sporting queria mesmo vender Bruno Fernandes, mas não a qualquer preço – e isso faz todo o sentido, porque ele é o melhor jogador da equipa de Marcel Keizer, o capitão e porque, mesmo bastante necessitados de reforçar os cofres, os dirigentes leoninos sabem bem o futebolista que têm em casa. Aquilo que falta saber – mas suspeita-se – é, afinal, o que quer mesmo o jogador. E se podia ter havido alguma forma de conjugar o que ele quer com aquilo que quer o clube.
Sei que Bruno Fernandes até já disse, há um par de semanas, que sonha um dia jogar na Premier League, mas que está focado no Sporting. Sei também que isso era simples conversa de circunstância, daquela politicamente correta para manter os assuntos em stand-by, até na sequência da declaração de Frederico Varandas, segundo a qual o capitão não sairia de certeza pelos valores de que se falava (cerca de 60 milhões de euros). Cada um dos dois lados estava à espera que o outro mostrasse o jogo primeiro e foi por ter percebido que esse bluff não tinha saída que há já algum tempo me convenci de que a transferência não ia fazer-se. Escrevi-o, aliás, na firme convicção de que provavelmente nem 60 milhões apareceriam. E a verdade é que não apareceram.
O mercado do futebol move-se de formas muito peculiares. Tal como há décadas faziam os italianos, os ingleses gastam hoje fortunas, mas quase sempre em jogadores do mercado interno, que eles já viram na sua realidade muito particular, ou representados pelos super-agentes que têm abertas as portas corporate dos maiores fundos de investimento mundiais. Ora Bruno Fernandes não tinha uma coisa nem a outra. Fez golos em barda, mas foi numa Liga que Inglaterra despreza ou vê, sobretudo, com capacidade para alimentar equipas de meio da tabela, como o Everton ou o Wolverhampton, que por um lado não investem 70 milhões num só jogador e, por outro, também não são, com certeza, o que Bruno queria para o seu futuro imediato. A somar a isso, o jogador não tinha um empresário daqueles que entram sem ser convidados nos camarotes dos donos dos clubes mais poderosos – foi pela conjugação destes dois fatores que viu esgotar-se a janela de transferências para a Premier League e continua a olhar para o jogo que o Sporting vai fazer no domingo no Funchal, frente ao Marítimo, na estreia na Liga.
Portanto, aqui chegados, importa perceber o que quer mesmo Bruno Fernandes? Quer sair a todo o custo, a ponto de fazer birra e tornar-se um problema? Não creio. É bem pago, vai ver o contrato melhorado e é venerado onde está. Se quis ficar há um ano, quando uma fação da bancada o tinha por mercenário a já afinava os assobios para o brindar à mínima falha, a permanência não será problema agora, que tem muito melhor ambiente. Quer sair para outro campeonato? Também não acredito, até porque fora de Inglaterra também não são assim tantos os clubes que paguem aquilo que o Sporting quer por um só jogador – Juventus, PSG, FC Barcelona, Real Madrid… – e esses já estão servidos ou apontaram a outros alvos. Como em Janeiro também não se fazem negócios da amplitude do que estamos a ponderar, resta portanto ao jogador tentar repetir a época que fez em 2018/19 e esperar que o Sporting, daqui por um ano, baixe a exigência. E resta a Keizer fazer marcha-atrás e recuperar as notas da temporada transata, para voltar a dar ao capitão a preponderância que ele tinha na equipa.