Oito recuperações de bola, quatro interceções, oito passes progressivos certos, uma oportunidade de golo criada, 44 passes concretizados em 50 tentativas (88% de acerto de passe, portanto), 63 toques na bola, três duelos aéreos ganhos em três tentados. Tal como acontecera frente ao FC Porto ou ao Nacional, Stephen Eustáquio voltou a estar em evidência num jogo do FC Paços de Ferreira quando, a meio da semana, a equipa pacense bateu o Moreirense por 1-0. Não foi há muito tempo que o médio canadiano de 23 anos rumou ao México para uma experiência mal sucedida no Cruz Azul. Agora, após uma lesão grave na estreia, que o afastou vários meses do relvado, Eustáquio regressou a Portugal e voltou a brilhar, sendo hoje um dos melhores médios da Liga Portuguesa. Esta é a segunda vida de Stephen Eustáquio, uma das principais armas de Pepa para o jogo do FC Paços de Ferreira contra o Benfica, amanhã, na Luz.
Depois de mais uma exibição de luxo com a camisola do FC Paços de Ferreira vestida, nem Pepa ficou indiferente ao momento de forma vivido por Stephen Eustáquio. Se o médio canadiano considerou Pepa um treinador de Top-5 em potência, o técnico ripostou com elogios. “É bonito receber elogios de quem trabalha connosco. Gratificante. Acima de tudo temos de estar satisfeito de ter os jogadores que temos, com inteligência. O Eustáquio é um monstro dentro de campo, um treinador dentro de campo”, afirmou Pepa.
Internacional jovem por Portugal no escalão Sub-21, foi ao Canadá natal que Stephen Eustáquio jurou fidelidade internacional. O agora médio do FC Paços de Ferreira até já chegou a internacional AA por uma das seleções emergentes do futebol mundial (vide Alphonso Davies, Jonathan David, Cyle Larin ou Scott Arfield), mas foi no regresso a Portugal, pela mão de Pepa, que se reencontrou com o seu melhor futebol. Não foi há muito tempo que se viu afastado dos relvados e vive agora, por isso, uma segunda vida. O calvário vivido no México reconstruiu-o. Hoje, Stephen Eustáquio é também um médio resoluto e acrescentou agressividade à sua conhecida criatividade.
Criatividade, classe ou elegância são apenas três dos adjetivos com os quais Eustáquio se habituou a conviver desde que em 2015 começou a mostrar-se ao mundo sobre o relvado do histórico Torreense, mas o que poucos lhe reviam até esta temporada é a agressividade e cultura defensiva que vai demonstrando ao serviço do FC Paços de Ferreira. Pela mão de Pepa, Eustáquio tornou-se um médio ainda mais completo e é hoje um dos principais recuperadores de bola da Liga Portuguesa. Segundo dados tornados públicos pelo portal Zero Zero, as 55 recuperações de bola já efetuadas pelo médio canadiano na Liga são mesmo um máximo da competição.
Para esse registo muito contribuiu o número de desarmes já efetuados pelo médio pacense. Ao todo, Stephen Eustáquio leva 21 desarmes efetuados na Liga Portuguesa, sendo que apenas sete jogadores na competição registam até ao momento números superiores neste indicador. A estes, Eustáquio junta-lhes ainda 16 interceções ou 10 cortes, bem como 40 duelos no chão ou 53 disputas de bola vencidas (ambos registos de Top-15 na Liga), sintomáticos da agressividade e dimensão defensiva que o seu jogo ganhou.


Stephen Eustáquio parece, por isso, ter deixado para trás os fantasmas da lesão grave que o atormentou no México e colocou um ponto final na aventura Cruz Azul ainda antes desta se iniciar. O plano de se aproximar da seleção canadiana rumando à principal liga da CONCACAF terminou na estreia pelo Cruz Azul e, ao todo, Eustáquio não foi além de um par de jogos pela Máquina. Depois de 79 minutos na Taça do México, frente aos Alebrijes de Oaxaca, o médio fez mais 34 minutos frente ao Tijuana, na Liga, jogo em que acabou por sair de maca com uma rotura de ligamentos num dos joelhos. Com a saída de Pedro Caixinha do clube, a porta fechou-se para Stephen Eustáquio.
“Para já não se segue nada, ainda não tomei nenhuma decisão, mas a verdade é que não volto para o México e não tenho destino. Vamos ver o que aparece nos próximos dias, posso ir para qualquer clube, por empréstimo, ou uma venda”, afirmou em agosto à Rádio Renascença. “A prioridade é um clube em que o treinador jogue com as minhas características. Um futebol de posse em ataque organizado, seria uma mais-valia. Em Portugal ou lá fora, acho que me adapto em qualquer sítio, claro que gostava em Portugal, é o nosso país, mas ainda não apareceu nada, vamos esperar e ver”, explicou ainda.
Eustáquio chegou a ser associado ao Sporting, antes de assinar pelo Cruz Azul, e não esconde o objetivo de jogar num dos grandes: “Acredito que sim, sempre que chega o mercado, pode haver uma chamada. Vejo muitos jogadores a chegar do estrangeiro, mas acho que não acrescentam mais do que um português”, defendeu na mesma entrevista. Curiosamente, acabou por não ser um clube que privilegia um futebol de posse e em ataque organizado a escolhê-lo, mas nem por isso Eustáquio deixou de se impor e de se assumir como um dos principais jogadores em competição.
Mesmo na terceira equipa da Liga com menor posse de bola média por jogo, Eustáquio fica à porta do Top-5 de médios com mais passes na competição. Só Gabriel, Gustavo Assunção, Pizzi, Otávio e Rúben Micael têm mais passes do que Eustáquio entre os médios em competição até ao momento. Com mais de 87% de acerto de passe, Eustáquio é ainda um dos quinze jogadores da Liga com mais passes efetuados para o último terço do campo e só Vertonghen, Nuno Santos e Manafá registam uma taxa de eficácia superior neste índice.
Particularmente impressionante é ainda a eficácia demonstrada por Eustáquio no que aos passes progressivos diz respeito. Só Otávio, Grimaldo e Manafá têm taxas de eficácia superiores neste campo. Está aí, portanto, parte da explicação para o porquê de o FC Paços de Ferreira ser neste momento uma das equipas que mais oportunidades de golo cria na liga, apesar de ser uma das que menos bola tem em média por jogo. Só seis equipas da Liga registam um valor de golos esperados superior ao atualmente registado pelos castores.
Os tais passes progressivos, que ajudaram o Paços a vencer o Moreirense a meio da semana. Como vimos, só Eustáquio protagonizou oito deles, registo determinante para que fosse eleito pela quarta vez o melhor em campo num encontro do Paços de Ferreira, pelo portal GoalPoint. Esta temporada, só Pedro Gonçalves foi tantas vezes eleito o melhor em campo pelo mesmo portal quantas foi Stephen Eustáquio. Porém, como vimos, não é só de registos ofensivos que vive o jogo do médio canadiano. Ele é um dos oito jogadores com mais duelos defensivos disputados e um dos mais eficazes em competição nesse registo tendo vencido 63.77% dos duelos que disputou.
“[Eustáquio] tem qualidade de passe, é muito intenso, muito agressivo após a perda, liga bem a frente de ataque, posiciona-se muito bem para receber. Sinto potencial nele”, preconizava Luís Castro, em 2018, técnico que deu destaque ao médio canadiano, então ao serviço do GD Chaves. Em janeiro de 2019, Eustáquio deixou o GD Chaves para rumar ao Cruz Azul a troco de 3,5 milhões de Euros. Depois de vários meses parado devido a lesão grave, recuperou a alegria de jogar futebol no Paços e Pepa deu-lhe uma dimensão ainda maior. Para este passo à frente na carreira, Eustáquio teve de seguir o seu instinto.
“Era importante voltar a ganhar confiança, estive muitos meses parado e era importante voltar a sentir carinho e confiança em treinos e jogos. Conhecia bem a I Liga, era o momento certo e o ambiente ideal para voltar a dar carga. Surgiu o Paços, o ‘mister’ Pepa falou comigo, queria-me muito lá, achei o ideal, eles precisavam de jogadores e tinham condições para fazer muito mais, para além de boas condições de treino e trabalho. Começamos a falar e vi logo que era a melhor opção”, afirmou à RR…
Depois de um empréstimo bem-sucedido na segunda metade da temporada passada, ajudando o clube a manter-se na Liga, o Paços renovou o empréstimo de Eustáquio e os resultados estão à vista. Com um dos melhores médios do campeonato nas suas fileiras, desloca-se à Luz numa altura em que ocupa a quinta posição na Liga apenas atrás dos candidatos ao título. Agora, o objetivo é replicar na seleção o que vai fazendo no Paços. Nesta segunda vida que vai vivendo, tudo parece possível. “Gostava de jogar em dois Mundiais, temos o próximo e depois em 2026, que o Canadá tem presença garantida, porque organiza com o México e Estados Unidos da América. Em termos de clube, gostava muito de jogar num grande e a Liga dos Campeões. Vamos ver, passo a passo, mas o que mais queria mesmo e gostava era jogar num grande, sem dúvida”.