A explosão de qualidade de Matheus Pereira no West Bromwich Albion e a anunciada exerção da opção de compra de dez milhões de euros por parte do clube inglês tem levado muita gente a lamentar o que terá sido o erro do Sporting na perda do talentoso atacante. Ora, que há erro, isso é evidente. Mas não estou assim tão seguro acerca do prevaricador. E, ao contrário do muito menos badalado caso do central turco Merhi Demiral, quatro vezes titular em Dezembro na Juventus depois de ter sido cedido há um ano ao Alanyaspor (que logo o vendeu ao Sassuolo) por 3,5 milhões de euros, estou muito mais inclinado para achar que a responsabilidade foi sobretudo do jogador.
Há muitos anos que se ouve falar de Matheus Pereira – e de Francisco Geraldes, também – como jogador extraordinário. O extremo luso-brasileiro, porém, nunca o confirmou ao mais alto nível. Depois de uma carreira promissora nos juniores e na equipa B, chegou ao onze top do Sporting em Outubro de 2015, num jogo com o Besiktas em Istambul e, logo nesse mês, fez quatro golos na formação orientada por Jorge Jesus: dois ao Vilafranquense, na Taça de Portugal, e outros dois aos albaneses do Skenderbeu, na Liga Europa. Parecia estar lançado, como o comprovam os 18 jogos que fez nessa primeira época numa equipa do Sporting onde a concorrência era dura – foi o Sporting de Jesus que discutiu o campeonato até ao fim com o Benfica. No entanto, no ano seguinte, com menos qualidade no plantel, jogou menos: nove jogos apenas e um golo.
Em 2017, a opção de Jesus foi emprestá-lo ao GD Chaves, imediatamente após a pré-época. Brilhou em Trás-os-Montes, com oito golos em 30 jogos, e voltou a casa no pós-Alcochete. Teve o tal incidente disciplinar com Peseiro, com um ‘tweet’ inconveniente pelo meio, antes de ter feito sozinho a viagem de regresso a casa ao saber que era o 19º jogador na partida de estreia dos leões na Liga, em Moreira de Cónegos, e acabou emprestado ao FC Nuremberga. Na Alemanha não se saiu tão bem como em Chaves (três golos em 20 jogos), mas o nível de dificuldade também era maior, e acabou por fazer mais uma pré-época de verde-e-branco. Esta época, Keizer chegou a testá-lo como alternativa a Bruno Fernandes, a jogar pelo meio, em mais uma pré-época, mas Matheus Pereira não chegou a fazer um jogo a sério antes de sair por empréstimo para o segundo escalão inglês.
O brilho que está a atingir com as cores do WBA, e que levará os ingleses a exercer a opção de compra de dez milhões de euros, tem sido visto pelos sportinguistas como sinal de um erro, do desperdício de talento por parte do clube – e esse erro é evidente. Mas a verdade é que Matheus fez uma mão-cheia de pré-épocas em Alvalade, com três treinadores diferentes. E nenhum quis ficar com ele. Sim, houve erro. Mas ele foi mais do jogador, que desperdiçou as oportunidades de lançar uma carreira que só agora, aos 23 anos, parece dar os primeiros passos firmes. E se há um ano alguém dissesse a qualquer sportinguista que o clube ainda ia receber dez milhões de euros por Matheus Pereira, não haveria um que não assinasse logo o contrato.
Do lado do Sporting do que pode falar-se não é tanto de culpa. Gerir uma equipa é conseguir ver o talento para lá de incidentes como os que foram motivando a perda de oportunidades de Matheus Pereira. É ser capaz de motivar mesmo os jogadores que parecem não querer nada com o compromisso face aos interesses da equipa. É extrair deles aquilo que se adivinha que eles têm mas não estão a dar. Isso, ninguém no Sporting foi capaz de fazer. E a verdade é que não houve em Alvalade quem fizesse a diferença, quem saísse da vulgaridade a que o clube tem estado condenado nos últimos anos.