Enquanto Jorge Jesus é o “exército de um português só” no campeonato brasileiro, uma armada de futebolistas do Brasil continua a ganhar terreno em Portugal. Pela primeira vez, a quantidade de brasileiros em actividade ameaça igualar-se à de portugueses e, se ainda não é realidade uma competição nacional dominada por estrangeiros, o numeroso contingente verde-amarelo deu à Liga Portuguesa ares de filial do Brasileirão. Uma espécie de “Brasileirinho”.
Até a sexta jornada da I Liga, CD Aves, Boavista, Gil Vicente, Marítimo, Paços de Ferreira, Portimonense, Rio Ave, SC Braga e o surpreendente Famalicão tinham, em média, mais brasileiros do que portugueses entre os titulares utilizados. São nove equipas, metade do total, o que faz da Liga Portuguesa a competição com mais “times brasileiros”, depois, é claro, do Campeonato Brasileiro.
Se incluída a Taça da Liga (gráfico abaixo), onde há a obrigação de se utilizarem jogadores formados localmente, o cenário altera-se um pouco mas, ainda assim, sete equipas utilizaram mais mão de obra brasileira que nacional e uma outra, rigorosamente, fê-lo na mesma proporção.
Relação entre portugueses (a vermelho) e brasileiros (a amarelo) utilizados pelas equipas portugueses na actual época.


Um fenómeno curioso e que foi impulsionado não apenas pelo alto número de brasileiros, mas por uma redução drástica de portugueses na liga.
Segundo os dados do site “ZeroZero”, quando o contingente canarinho passou pela primeira vez de uma centena (107), em 1987/88, havia 390 atletas lusos na competição. Até o início da sétima jornada da atual temporada, os brasileiros nos elencos principais das 18 equipas somavam 153, frente a apenas 168 portugueses, o menor contingente de sempre.
Relação entre portugueses (em vermelho) e brasileiros (em amarelo) no elenco principal das equipas, nas dez últimas épocas da Liga Portuguesa.


A diferença entre as duas nacionalidades poderia ser ainda menor se Benfica e FC Porto mantivessem a tradição de contar com vários brasileiros no elenco. Em 2009/10, os encarnados chegaram a ter 14 jogadores brasileiros e estariam entre as equipas com mais “zucas” do que “tugas” no plantel. Hoje, a participação resume-se a quatro atletas.
O mesmo pode ser dito do FC Porto de 2012/13, à época com 12 atletas canarinhos, contra os atuais três no Dragão.
O Sporting, por sua vez, sempre manteve uma relação discreta com os profissionais do Brasil. Mesmo assim, até a sexta jornada na liga, havia escalado entre os titulares cinco brasileiros, contra oito portugueses.
É verdade que os números estão em constante actualização, ainda mais tratando-se de um início de temporada, mas para que a curva portuguesa se recupere da queda seria preciso que quase uma centena de portugueses subitamente entrassem em campo, visto que na época passada eram 251 nos principais planteis.
Até isto acontecer – ou não – a Liga Portuguesa segue disputada em português de Portugal, porém mais do que nunca, com um forte sotaque brasileiro.