O Sporting de Leonel Pontes arrancou com um resultado comprometedor, que o deixa mais longe dos rivais e do FC Famalicão, que segue na liderança do campeonato, mas foi, apesar de tudo, um incremento àquilo que vinha mostrando a equipa de Marcel Keizer. Havia ali muita gente nova, também faltava gente importante, mesmo entre os que resistiram ao fim de Agosto, e o futebol da equipa não foi aquele puzzle impossível de interpretar que vinha sendo ultimamente. Mas ficam por aqui os semi-elogios, que o facto de o Boavista não ser um adversário qualquer não quer dizer que os leões não tivessem de ter ganho a partida para se constituírem como claros candidatos ao título. Quanto mais não seja para fazerem uma afirmação de poder e tranquilizarem adeptos e sobretudo jogadores, que agora terão pela frente dois compromissos muito complicados em cinco dias: PSV em Eindhoven e o líder da Liga, o FC Famalicão, em casa, sem Bruno Fernandes. Pode parecer cruel, mas a realidade é que desses cinco dias vai depender o futuro deste Sporting.
Pontes já sabia qual era o calendário para o arranque. Primeiro, uma equipa do Boavista que é em si o elogio da competitividade, mas que, convenhamos, não é a personificação da arte de jogar futebol e que naturalmente vai ficar nos seis/sete primeiros da Liga mas vergará ante os candidatos verdadeiros ao título. Depois, a deslocação ao terreno do mais difícil adversário na fase de grupos da Liga Europa, o PSV Eindhoven. Por fim, a receção em Alvalade ao líder e equipa-sensação da Liga. Traçar objetivos para este primeiro microciclo seria fundamental, porque uma sucessão de maus resultados podia pôr desde já termo à época em termos anímicos, transformar os oito meses que faltam num penoso arrastar pelos relvados do país e da Europa, mesmo que os objetivos ainda fossem matemática e razoavelmente atingíveis. O empate no Bessa foi uma espécie de mínimo exigível e por isso mesmo precisa de uma resposta concludente nos outros dois jogos, sob pena de se ver a equipa andar para trás. Quer isto dizer que a época do Sporting depende agora muito mais da capacidade que ela mostrar para pontuar em Eindhoven e de uma vitória tornada essencial perante o FC Famalicão. Não é uma questão matemática, que resultados insuficientes nestes dois compromissos não comprometem desde logo os objetivos, mas sim mental, anímica. A equipa precisa de voltar a confiar nela mesma.
Os sinais dados no Bessa não foram totalmente negativos. Pareceu haver alguma melhoria nos aspetos defensivos, pois mesmo tendo o Sporting somado o 16º jogo consecutivo a sofrer golos – o décimo se descontarmos os particulares de pré-época – desta vez o golo surgiu num livre direto, sem implicar qualquer desconcentração ou incapacidade defensiva coletivas. Não era difícil: difícil é perceber como é que, à quinta jornada, os leões têm a décima defesa menos batida do campeonato. No ataque, onde a equipa – imagine-se – já sentiu a falta de Luís Phellype e Vietto, Bolasie deu esperanças, Jesé mostrou que ainda não está pronto e Plata que precisa de crescer competitivamente. Mas a proposta de um ataque móvel, sendo terrivelmente difícil de pôr em prática, porque exige uma compreensão e coordenação globais às quais uma pré-temporada a pensar nisso teriam feito muita falta, pode ser das mais excitantes que se viu no futebol português nos últimos tempos.
Mesmo sendo empurrado para ela por pura necessidade – sendo o único ponta-de-lança de referência disponível, Luís Phellype até pode ser tornado uma espécie de arma secreta para períodos finais de jogos difíceis, se a aposta for na conjugação de Bolasie, Vietto e Jesé, por exemplo – Pontes tem nessa opção a única verdadeira hipótese de se distinguir dos demais. Precisa de trabalho de campo e de tempo. Tempo? Oh Diabo! Tem cinco dias, a partir de quinta-feira.