O CD Aves vai entrar amanhã no Estádio da Luz com uma série de dez derrotas seguidas fora de casa, que fazem da equipa de Nuno Manta Santos a melhor visita que algum adversário pode querer receber em Portugal. O Benfica, campeão nacional e líder isolado da Liga, não será o melhor ponto de viragem imaginado para o “lanterna vermelha” do campeonato, mas a verdade é que nem mesmo uma 11ª derrota consecutiva fará do CD Aves a equipa com a pior série do século em jogos fora de casa. Há três casos de 13 derrotas consecutivas, do Farense ao FC Penafiel, com passagem pelo Estrela da Amadora. E a questão é que as três desceram de divisão nesses anos.
Os avenses não pontuam fora de casa desde 19 de Abril do ano passado, quando golos de Derley e Mama Baldé lhes permitiram ganhar por 2-0 ao Vitória SC em Guimarães. A equipa então liderada por Augusto Inácio atingiu nesse dia, a quatro jornadas do fim da Liga passada, os 33 pontos, cinco acima da linha de água e, embora na altura ainda não pudesse sabê-lo, o suficiente para escapar à descida de divisão – o antepenúltimo e primeiro despromovido, o GD Chaves, acabou o campeonato com 32 pontos. Desde aí, no entanto, os avenses saíram derrotados de todos os jogos fora que fizeram para a Liga, como pode ver na tabela abaixo:


É curioso o facto de o CD Aves até ter feito golos em sete destas dez deslocações – total que aumentaria para nove em doze jogos, caso contabilizássemos os desafios da Taça da Liga e da Taça de Portugal, que a equipa também perdeu durante este período, contra o Gil Vicente (2-3, a 3 de Agosto, a contar para a Taça da Liga) e o Farense (2-5 a 19 de Outubro, para a Taça de Portugal). Para efeitos de comparação, no entanto, decidimos contar apenas jogos da Liga, de forma a não introduzir fatores de desigualdade.
Esta é já a maior série de derrotas fora do CD Aves em toda a história do clube na I Liga, mas não é o mais longo encadeamento de desafios seguidos sem ganhar longe do seu estádio: entre 20 de Abril de 1986 e 15 de Abril de 2007, ainda que com prolongadas ausências em escalões secundários, os avenses estiveram 28 jogos seguidos sem ganhar fora. Um golo de Silva permitiu à equipa então liderada pelo Professor Neca obter, na última jornada da prova, a segunda vitória fora da época de estreia da I Divisão, às custas da Académica (1-0). Depois, o CD Aves não ganhou fora de casa em todo o campeonato de 2000/01 (13 derrotas e quatro empates) e só voltou a vencer longe do seu estádio a 15 de Abril de 2007 (após mais quatro empates e sete derrotas). A série foi quebrada na Choupana, com uma vitória por 4-3 frente ao Nacional. Os golos foram marcados por Paulo Sérgio (dois), Filipe Anunciação e Moreira e o treinador avense era o inevitável Professor Neca.


A série de dez derrotas seguidas do CD Aves não é, ainda assim, a mais longa deste século na I Liga. O recorde negativo está em 13 jogos seguidos sempre a perder fora e é pertença de três equipas: Farense, Estrela da Amadora e FC Penafiel. Seguem-se, nesta lista, o Estoril (onze derrotas seguidas entre 2004 e 2005) e o Santa Clara (também onze derrotas seguidas, em 2002). A par do CD Aves, com dez derrotas consecutivas como visitante, aparece o Nacional, que as registou entre 2004 e 2005.
A última equipa a evitar ser recordista isolada foi o FC Penafiel, que ao 14º jogo empatou fora com o Moreirense (0-0). Aconteceu a 28 de Setembro de 2014 e o resultado foi consequência direta da troca de treinador: saiu Ricardo Chéu e entrou Rui Quinta. Para trás, ficavam então 13 jogos sempre a perder fora para a Liga, numa série que se iniciara em Novembro de 2005, quando Luís Castro levara os penafidelenses a empatar (1-1) no terreno da UD Leiria, graças a um golo do búlgaro Bibishkov, a cinco minutos do fim. A consequência foi, naturalmente, a descida de divisão.
Antes, também o Estrela da Amadora e o Farense tinham interrompido a série nefasta ao 14º jogo, depois da 13ª derrota fora consecutiva. Liderados por João Alves, os amadorenses perderam as primeiras 13 deslocações do campeonato de 2003/04, apenas interrompendo a malapata a 3 de Abril, com uma vitória por 2-1 frente ao Boavista, no Bessa (golos de Alex Garcia e Miran), já com Miguel Quaresma a orientar a equipa no banco. Como pelo meio o Estrela passara pelo segundo escalão, a última vez que escapara à derrota como visitante na Liga tinha sido na despedida da Liga de 2000/01: 3-3 em Aveiro com o Beira Mar (golos de Cristóvão, Semedo e Gaúcho). Claro que a vitória no Bessa já não foi suficiente para evitar a descida de divisão
Por essa altura, andava o Farense com um problema semelhante. Em 2001/02, a equipa orientada pelo espanhol Alberto Pazos só perdeu um dos primeiros quatro jogos fora, tendo ganho ao Salgueiros em Vidal Pinheiro e empatado com FC Paços de Ferreira e Boavista na Mata Real e no Bessa. Mas após esse empate com os axadrezados (1-1, a 30 de Setembro de 2001, com golo do brasileiro Ferreira), perdeu as 13 deslocações que lhe restavam até final da época e, naturalmente, desceu de divisão, já com Paco Fortes ao leme. A série do Farense está, portanto, em curso, porque a equipa algarvia nunca mais voltou à I Liga ainda que esteja neste momento em posição de subida no segundo escalão. O 14º jogo e um possível recorde negativo podem estar à espreita para o início da próxima época.
Isto, claro, caso o CD Aves interrompa a sua série numa das próximas quatro saídas. A saber: Benfica (10 de Janeiro), Marítimo (2 de Fevereiro), FC Famalicão (15 de Fevereiro) e Sporting (8 de Março).