Jorge Silas disse ontem que “só uma catástrofe” tiraria Bruno Fernandes do Sporting-Benfica de hoje e creio que não estaria a falar de mercado, isto é, que não rotularia de catastrófico um evento no qual alguém aparecesse em Alvalade com o camião de notas que os leões estão a pedir pelo seu capitão. Ora eu, que não engrosso o grupo dos que acham que um jogador, numa situação de transferência iminente, como está Bruno Fernandes, vai necessariamente render menos porque inconscientemente “tira o pé”, admito todos os cenários para este estranho protelar de um casamento que todos parecem querer, ainda que não com a força necessária para dizerem o “sim” no altar.
Admito que, por razões de rivalidade, o Sporting tenha dito ao Manchester United que precisa do capitão para o jogo de hoje, mesmo que à distância a que os leões estão do topo este jogo acabe por valer menos em termos práticos do que uma partida com os rivais que se desenham na luta pelo terceiro lugar. Admito que, por uma questão de emoção e gratidão, seja Bruno Fernandes quem faz questão de se despedir em beleza, num jogo com estádio cheio, face a um rival histórico, com sonhos de glória nascidos na forma como ele mesmo derrubou o Benfica, em Abril, nas meias-finais da última Taça de Portugal, com um golo que valeu uma vaga na final do Jamor. E admito que, em nome da cautela e em coerência com o que tem sido a gestão Glazer, seja o Manchester United quem está a vacilar e queira pechinchar nos valores a pagar por um jogador que entra de caras no onze de Solskjaer, tem condições para mudar o futebol da equipa, mas já vai fazer 26 anos em Setembro e nunca competiu ao mais alto nível numa das Cinco Grandes Ligas a não ser como adolescente promissor na Udinese e na Sampdoria.
Em Inglaterra, o que se vai dizendo é que o United está a tentar baixar o valor da operação. O Twitter está cheio de comentários desesperados de adeptos que anseiam pela chegada do “salvador” e temem que o clube volte a perder um bom jogador porque a sua gestão é “forreta”. Em Portugal, o cenário é o contrário: está muita gente à espera de ver até onde o Sporting baixa a fasquia para finalmente encerrar este tema e a afiar as tesouras para “cortar na casaca” da gestão leonina. É que, depois do que assumiram no Verão, recusando menos do que os 70 milhões de euros que julga serem justos e que, provavelmente, são o valor de que necessitam para continuar a tocar o barco para a frente, os leões não podem agora ceder. Não haveria “spin” que mascarasse a consolidação de uma identidade de venda em baixa, que afetaria de forma negativa futuros negócios – nem variáveis por objetivos dificilmente atingíveis e impossíveis de influenciar, nem empréstimos de excedentários que dificilmente seriam valor acrescentado, nunca criariam raízes e até seriam um entrave (mais um…) à afirmação dos jovens que por cá estão em fila de espera.
Hoje, no dérbi, se verá a disposição de Bruno Fernandes. O jogador disse há tempos que nem quer estar a par do que se passa nos bastidores das negociações, de forma a poder manter o foco nos jogos. Acredito nisso. Só que, se o que ele quer é um destino de topo, além de lhe prejudicar o valor de mercado, a idade já não lhe permite perder muito mais aviões para fora de Portugal. É por isso que, passado o jogo de hoje, os próximos dois ou três dias vão ser definidores. Hoje, porém, é desfrutar, porque há um dérbi para jogar.