Depois de ontem a Federação Inglesa ter decretado a anulação da temporada em todos os escalões não profissionais, formação e equipas femininas, hoje foi a vez de Portugal seguir o exemplo inglês com a FPF a anunciar a anulação da temporada praticamente nos mesmos moldes. Deste modo, destas provas, não será tirado qualquer efeito desportivo imediato, isto é, não serão atribuídos títulos nas referidas competições nem aplicado o regime de subidas e descidas.
Ainda de acordo com o comunicado emitido pela Federação Portuguesa de Futebol, esta decisão será adotada também pelas associações distritais e regionais, novamente no que diz respeito à formação. A Federação Portuguesa de Futebol explicou que a decisão resulta do estado de emergência vigente em Portugal com o objetivo de proteger a população, especialmente os jovens e as crianças que amam o futebol, salvaguardando-os e a todos os seus familiares de perigos bem presentes. Relativamente às restantes competições sob a alçada da FPF, como o Campeonato de Portugal, Liga de Futsal ou Liga feminina, a federação reforça que continuam suspensas e não anuladas.
Ora quem não ficou satisfeito com esta decisão da FPF foram as associações distritais e a AF Lisboa já se pronunciou contra o decretado: “Fomos confrontados com o comunicado da FPF que determina o fim de todas as provas nos escalões de formação. E ao contrário do que diz esse comunicado em Lisboa, na Associação de Futebol de Lisboa, não há qualquer decisão para esses escalões”, anunciou Nuno Lobo, presidente da AF Lisboa, nas redes sociais da Associação.
Segundo o líder da AFL uma decisão sobre o encerramento das provas dos escalões de formação só vai ser tomada dentro de alguns dias e após uma reunião plenária com as restantes associações distritais: “Estamos a acompanhar diariamente, estamos a monitorizar constantemente esta pandemia que assola o nosso distrito, o país, a Europa e o mundo. Vamos ter, no decorrer da próxima semana, uma reunião plenária, com os meios técnicos hoje disponíveis, para, conjuntamente, termos uma posição final e definitiva acerca desta problemática”.
Mais favorável à decisão da FPF estiveram os diretores da academia do Sporting e Benfica. Paulo Gomes assinalou que “o jogador não é tão importante como o ser humano”. “Assim sabemos que começamos a próxima época sem colocar ninguém em risco. Temos de pensar que os nossos atletas ainda têm a escola agregada a isto e ainda há essa indecisão”, assinalou Paulo Gomes, referindo que qualquer “subida, descida ou título de campeão não é mais importante que a saúde de qualquer ser humano”. Já do lado do Benfica, Pedro Mil-Homens aplaude a decisão: “O que considero residual era estar a imaginar quando poderíamos terminar uma competição. O Benfica não só está de acordo, como aplaude esta decisão”.
Por decidir continuam as competições profissionais (quase todas paradas como se pode perceber do artigo de antevisão de fim de semana assinado pelo Fernando Gamito) e Rui Pedro Soares, presidente da SAD do Belenenses, não vê outra possibilidade se não terminar a temporada: “Os campeonatos profissionais vão acabar. Era impensável que não fosse assim e isso não está sequer em cima da mesa. Quando terminarmos este campeonato, recomeçaremos o seguinte. É impensável não se jogarem estas dez jornadas e os campeonatos profissionais não acabarem” afirmou em conversa com jornalistas por vídeo conferência.
Segundo Rui Pedro Soares, esse é mesmo o sentimento de todos os clubes nesta altura: “Apenas posso falar pelo Belenenses SAD, mas não ouvi nenhum colega meu dizer que concluir os campeonatos não é uma prioridade. É impensável pensarmos que as dez jornadas não vão realizar-se. O futebol vai regressar e a prioridade é concluir este campeonato e não começar a próxima época”.
Ainda assim, o líder do clube do Jamor tem noção que estes vão ser meses muito complicados para os clubes devido à perda brutal de receita que já está a ocorrer: “Os clubes portugueses têm necessidades de financiamento através da antecipação de receitas de televisão ou da venda de jogadores. Neste momento, essa antecipação de receitas pura e simplesmente não é possível. De uma forma global, vamos ter problemas de tesouraria nesta indústria, mas não podemos antecipar a intensidade e a forma como cada um vai conseguir responder”.
Depois de ter arbitrado um encontro da UEFA Youth League em Itália, Fábio Veríssimo foi obrigado a estar em quarentena e, à Lusa, o árbitro português explicou um pouco do que sentiu durante esse período. “O que me custou mais nestes 15 dias em casa foi não poder ter a minha mulher e os meus filhos comigo. Falava com eles todos os dias, mas não é a mesma coisa. Nos primeiros dias, antes de ser decretado o estado de emergência, custava-me ver as pessoas na rua e eu ter de ficar em casa. Aproveitei para arrumar algumas coisas, ver televisão, treinar da maneira possível e dedicar tempo à arbitragem”. Tal como os jogadores, também Fábio Veríssimo se vai mantendo ativo da forma possível e este artigo do Álvaro Filho ajuda a perceber como. No Flamengo, por exemplo, Jorge Jesus usa uma app desenvolvida por portugueses que ajuda a monitorizar o treino feito pelos jogadores. Ora leia.
Após o caso Rafael Leão, há mais uma vitória do Sporting fora dos relvados. Segundo Milton Bivar, presidente do Sport Recife, a FIFA rejeitou o pedido de adiamento do pagamento da dívida de André por parte clube brasileiro, situação que se arrasta desde 2017. “A FIFA não prorrogou. Houve uma solicitação nossa, feita há uns dez dias, mas não prorrogou. Acredito que vamos solucionar antes do prazo” afirmou o dirigente ao Globo Esporte.
Absolvido foi o Benfica, pelo TAD, num processo relativo a críticas à arbitragem feitas pelo clube da Luz face a vários encontros do FC Porto. “A demandante [Benfica] utiliza um tom duro. São declarações que podem ser consideradas contundentes, mas não serão suficientes para justificar uma limitação à liberdade de expressão, que apenas se deve operar excecionalmente. A proteção da liberdade de expressão é uma obrigação basilar do estado de direito democrático, e a imposição de limitações à mesma deve ser excecional e robustamente justificada”, pode ler-se no acórdão do TAD, segundo o Mais Futebol.
O novo coronavírus continua a fazer mossa no futebol e depois de ontem o FC Barcelona ter partido para a redução salarial por diminuição do período de trabalho diário, hoje foi a vez do Atlético Madrid e do Espanyol avançarem com o regime de trabalho temporário para reduzir custos e fazer face à diminuição brutal de receita a que os clubes estão sujeitos nesta fase sem competição. Os cortes salariais no clube catalão chegam mesmo aos 70%. “Os afetados por esta medida foram devidamente informados e mostraram compreensão e respeito, pelo que o clube quer agradecer a todos neste momento difícil” anunciou o Espanyol.
Em nota assinada pelo CEO do clube, o Atlético informou que vai aplicar o regime de trabalho temporário para os profissionais que, devido à pandemia de Covid-19, não conseguem desenvolver as atividades ou tenham visto o tempo de trabalho ser reduzido de forma relevante. “Ambos os casos afetam tanto funcionários como jogadores e treinadores das nossas equipas. Estamos a trabalhar para minimizar o impacto da medida e limitá-lo ao estritamente imprescindível, para que quando regresse a competição tudo volte a funcionar como até agora. São decisões difíceis, mas a responsabilidade de salvaguardar o futuro do Atlético Madrid obriga-nos a tomá-las”, pode ler-se. Decisões que só farão algum sentido em clubes de topo uma vez que nem todos os jogadores de futebol são milionários, premissa que serviu de referência à reflexão do António Tadeia no Último Passe de hoje.
Por fim, em Itália, continua a discutir-se a melhor data para o regresso do futebol, mas o Ministro do Desporto italiano já colocou água na fervura em relação ao tema. “As previsões que nos fizeram pensar que poderíamos retomar as competições desportivas em finais de abril ou início de maio penso que são demasiado otimistas”, afirmou.
“Posso dizer que se houver condições para reatar as competições em determinadas circunstâncias, será com jogos à porta fechada. É impensável dizer que em maio podemos recomeçar regularmente com todas as competições, especialmente com espectadores. São os próprios cientistas que não têm certezas sobre a evolução da pandemia, não é que estejamos a hesitar ou não saibamos o que fazer. Temos de adaptar as nossas decisões a uma situação que está sempre a mudar”, acrescentou ainda.
Já André Villas-Boas defende que a melhor solução é mesmo terminar a temporada em novembro. “Talvez o mais viável seja terminar esta época em novembro ou dezembro de 2020. E a partir de 2021 começamos a nova época com o ano civil para, dessa forma, chegarmos ao Mundial 2022 após o fim dos campeonato”, afirmou o treinador do Olympique Marselha, em declarações à rádio francesa RMC. Villas-Boas reconhece que iriam ser precisos alguns meses para voltar a normalizar os calendários, mas defendeu que a medida era necessária para garantir a sustentabilidade financeira dos clubes. “Para a saúde económica dos clubes, é preciso concluir os campeonato, apesar de isso ser secundário. O mais importante é a saúde”, concluiu.
Rps, tens os dias contados, pá
Afinal a FPF começa a abrir os olhos e acredito que todo o Futebol não profissional ficará por aqui, parece que eu tinha razão. A AFL pode dizer o que quiser mas quem manda nas competições nacionais ainda é a FPF.