Depois de muitos anos em segundo plano e a ser subvalorizado pelo mundo do futebol, Karim Benzema é dono e senhor dos destinos do Real Madrid e tem já maior influência para Zinedine Zidane do que Cristiano Ronaldo teve. A ida do internacional português da capital espanhola para Turim resultou na transformação do francês, que de assistente-mor passou a ser homem-golo. A preponderância de Benzema no ataque da equipa permite-lhe até ter em vista o primeiro ‘Pichichi’ da carreira. A ponto de Zidane já o considerar o melhor avançado francês da história… o que deu polémica no país gaulês, até porque Benzema não vai à seleção há mais de cinco anos.
“Para mim Benzema é o melhor avançado da história do futebol francês. Continua a mostrar isso mesmo e já está no Real Madrid há muito tempo. Fez mais de 500 jogos e marcou muitos golos. O seu palmarés fala por si mesmo e para mim é o melhor, sem dúvida.” Foi desta forma que Zidane descreveu o seu avançado, numa conferência de imprensa a meio de dezembro. Ora, há alguns nomes que poderiam contestar essa tese: Raymond Kopa, Thierry Henry, Jean Pierre Papin, Eric Cantona… até mesmo Griezmann, ou Mbappé na era mais moderna. A verdade é que Benzema não conquistou nenhuma Bola de Ouro (a viver na era de Ronaldo e Messi não seria fácil…), nem um grande troféu pela seleção francesa. Aliás, desde 2015 que não integra a equipa de Didier Deschamps, depois de ser afastado devido a um caso de chantagem com Valbuena. Por isso mesmo, não foi campeão do Mundo em 2018.
Nem mesmo quando os entendidos do desporto rei mencionam os melhores avançados do futebol atual o nome de Benzema está entre os mais falados. No entanto, entende-se a razão pela qual Zidane disse o que disse. É que para além de jogar para ele, o atacante de 33 anos já deu muito a Zizou. “Está mais maduro. Não é um nove puro, não pensa só em marcar e é isso que também gosto nele. Associa-se com os colegas e isso é o que mais gosto de ver. E tem golo, porque marca quando é preciso”, comentou ainda o timoneiro dos merengues. E os números dão uma certa razão ao técnico.
Para além de ser já o estrangeiro que mais vezes envergou a camisola ‘blanca’ (com 532 jogos oficiais superou os 527 de Roberto Carlos ), Benzema festejou inúmeras vezes pela equipa. É o quinto melhor marcador da história do Real Madrid com 261 golos e tem à frente apenas Cristiano Ronaldo (450), Raúl González (323), Di Stéfano (305) e Santillana (290). O palmarés do francês é igualmente invejável aos olhos de todos: quatro Champions, quatro Mundiais de Clubes, três Supertaças Europeias, três Ligas Espanholas, duas Taças do Rei e duas Supertaças de Espanha. Sim, isso tudo ao longo de onze anos em Madrid, mas o contributo que teve nesses momentos foi inegável.
Com atenções centradas no presente, Benzema explodiu na finalização desde a saída de Ronaldo, em 2018. O francês teve mesmo de assumir esse papel de abono de família, até porque os madrilenos não conseguiram encontrar substituto natural para o português (Bale, Hazard e Asensio foram assombrados por lesões e Vinícius Júnior ainda é um jovem). Por isso mesmo, Benzema chegou-se à frente e para além das assistências subiu também o número de vezes em que fez balançar as redes adversárias. Com 12 golos em 19 compromissos nesta temporada, o francês tem uma média de 0,63 golos por partida, marca apenas superada pelos 0,77 de 2015/16 (28 tentos em 36 encontros). Na época passada chegou aos 27 golos em 48 jogos (média de 0,56) e na anterior a essa, a primeira sem a companhia de Ronaldo, apontou 30 golos em 53 partidas. Curiosamente, o número de assistências nem tem baixado em relação às últimas épocas com Ronaldo (como se pode verificar no quadro abaixo), o que demonstra a influência incomparável de Benzema neste Real Madrid relativamente aos atuais colegas de equipa.

No que toca a golos marcados pelos merengues nesta época, 30,7 por cento foram da autoria de Benzema (12 em 38), média superior à de Cristiano Ronaldo aquando da primeira passagem de Zidane no comando técnico do Real Madrid (29 por cento em 2017/18 e 24% em 2016/17 – em 2015/16 Zidane orientou a equipa em apenas 29 dos 52 jogos). Sim, é verdade que os madrilenos não mais conquistaram a Champions desde a saída do português, a título exemplificativo, e a presença que tinha era claramente mais significativa. No entanto, há que assinalar a força de Benzema nesta era pós-Ronaldo na capital espanhola. Como se verifica na tabela abaixo, a influência de Benzema disparou desde a saída de Ronaldo e tem rondado sempre um terço dos golos da equipa. Antes disso, o papel do francês era outro, tal como o próprio confidenciou.
“Tinha este tipo [Ronaldo] que marcava o dobro, triplo dos golos, então tive de me adaptar. Sou um futebolista, então disse para mim próprio: ‘sem preocupações, vou deixar para trás a ideia de apenas marcar golos e fazer o que é preciso’. Transformei muito a forma como jogava. Mudei para jogar com ele”, chegou a dizer Benzema numa entrevista a Jorge Valdano sobre os tempos em que partilhava as despesas do ataque com o português. Para que se entenda bem esta diferença de que fala e o atual regresso de Benzema aos tempos de Olympique Lyon (mais goleador), há uma frase de Álex Berenguer que descreve na perfeição o futebol do avançado de 33 anos. “O Benzema não faz barulho nenhum, mas mata-te”, atirou já nesta época o médio do Athletic Bilbau, citado pela ESPN.

Com 16 jornadas disputadas nesta Liga Espanhola, Benzema leva oito golos marcados, assim como Gerard Moreno, e estão apenas abaixo de Iago Aspas (Celta Vigo), que já soma nove. Ainda assim, é de assinalar que o francês não fez qualquer tento de grande penalidade (Sergio Ramos assume essas despesas no Real Madrid), ao passo que o jogador do Celta Vigo tem três golos de penálti e o do Villarreal CF quatro da marca dos onze metros. Para além disso, Benzema está também acima dos 6,5 xG (golos expectáveis, dados do portal StatsBomb) que lhe eram apontados para este momento. A média de 0,63 golos por jogo no campeonato é a terceira melhor marca na competição, superada apenas por Suárez (0,94) e Oyarzabal (0,89). Os golos também chegam porque Benzema arrisca e é precisamente o segundo jogador que mais rematou nesta Liga Espanhola (47 remates), número ainda assim bastante abaixo dos de Messi (81 e tem sete golos).
Apesar de ter deixado o papel secundário para trás, Benzema está ainda entre os melhores assistentes do campeonato com cinco passes para golo, os mesmos do que Iago Aspas (é com o francês a dupla de jogadores mais influentes em golos e assistências na La Liga) e Ángel Correa. Assim como nos golos, também nas assistências o gaulês está acima do expectável (tinha 2,2 de xA – assistências expectáveis). Com 0,39 passes para golo por partida, tem o quinto melhor registo na competição do país vizinho: está atrás de Ángel Correa (0,58), Carrasco (0,54), Canales (0,45) e Soler (0,40). Benzema conta ainda com 14 passes-chave e tem nove ações criadoras de golo, número somente ultrapassado por Messi (12) e Aspas (11).
Com os números que apresenta, Benzema está longe de ser simplesmente um “gato” como José Mourinho o caracterizou em tempos. O treinador português coincidiu com o avançado francês no Real Madrid entre 2010 e 2013 e comparou tê-lo no ataque como ir à caçã não com um cão, mas sim um gato. “Se não tens um cão para ir à caça, mas só tens um gato, tens de levar o teu gato. Vais caçar menos, mas vais caçar alguma coisa”, disse Mourinho em 2011. Essas declarações não caíram bem. “Eu disse-lhe o que tinha a dizer, levou uma hora. ‘Sou um jogador de futebol, tu és meu treinador. Eu respeito-te, respeita-me como jogador. A partir daí, não houve nenhum gato, cão, etc. Eu sou tímido, mas se gozam comigo, serei direto. E quando dizes o que pensas, é verdade que as coisas são sempre melhores”, confidenciou o atacante ao Canal+, em 2017. Raymond Domenech, antigo selecionador francês, já o comparou com um “camaleão” pela forma como se adapta às situações. Fora as comparações animalescas, Benzema assume-se como o ‘matador’ deste Real Madrid, cuja influência no clube tem muitas vezes sido alvo de subvalorização.
eu arranjava um fundo mais ou menos legal para ele jogar no sporting .