Dia de sorteio europeu é sempre dia para se debater quem teve mais sorte e quem teve mais azar nos adversários que lhe couberam. Ora, considerando apenas os coeficientes de cada clube, Benfica e Vitória SC foram as equipas portuguesas a quem calharam os adversários mais difíceis nas competições europeias, enquanto que o FC Porto e o Sporting têm os mais fáceis. Mas, considerando a competição e o pote em que estavam inseridos no sorteio, o Benfica até foi a mais feliz das cinco equipas portuguesas, enquanto o Vitória foi a mais azarada.
Ao longo dos próximos meses, o Benfica terá de defrontar Zenit, Olympique Lyon e RB Leipzig, cujos coeficientes, somados, totalizam 155,5 pontos. Os adversários do Vitória SC estão quase ao mesmo nível, somando 142,5 pontos, enquanto SC Braga, Sporting e FC Porto terão testes de menor exigência. Os adversários dos guerreiros do Minho representam 85 pontos no ranking UEFA, enquanto os de Sporting e FC Porto equivalem-se com 54,75. Mas isto não é uma questão de sorte ou azar, é apenas consequência das competições e dos potes em que cada equipa partiu para o sorteio. Estando na Liga dos Campeões é normal que o Benfica tenha os rivais mais fortes, enquanto na Liga Europa, o Vitória SC, partindo do Pote 4, é quem tem a tarefa mais difícil, seguido de SC Braga (Pote 2) e, depois, de Sporting e FC Porto (Pote 1).
Para avaliar a sorte ou azar, é necessário comparar com os outros clubes do mesmo pote, como se pode ver na imagem abaixo:

Daqui se conclui que, de entre as equipas que estavam no Pote 2 da Liga dos Campeões, o Benfica foi a terceira com mais sorte. Só duas equipas ficaram com adversários mais acessíveis no seu conjunto: o Ajax, que defrontará Chelsea (87), Valencia (37) e LOSC Lille (11,699); e o Shakhtar Donetsk, que jogará com Manchester City (106), Dínamo Zagreb (29,5) e Atalanta (14,945). Quase no extremo oposto está o Vitória SC, já que o sorteio ditou que, de entre as equipas do Pote 4 da Liga Europa, só uma ficou com adversários ainda mais difíceis (a julgar pelo ranking) do que os que calharam à equipa de Ivo Vieira.
Seguindo esta lógica da sorte que cada equipa teve em comparação com equipas do mesmo pote, pode-se dizer que o Benfica foi a equipa portuguesa mais bafejada pela sorte, seguido do SC Braga. Sporting e FC Porto defrontarão adversários cuja soma dos coeficientes é exatamente a mesma, enquanto a fava saiu ao Vitória SC.
Recorde o resultado dos sorteios da Liga dos Campeões e da Liga Europa nas tabelas abaixo.


Champions sem tubarões é melhor
A abordagem segundo a qual o Benfica tinha tido um bom sorteio só por causa do cabeça-de-série que lhe calhou, o Zenit, a equipa mais acessível do primeiro pote do sorteio da Liga dos Campeões, parecia ter virado quando apareceram os adversários dos potes 3 e 4 – Olympique Lyon e RB Leipzig –, fazendo do Grupo G um dos mais equilibrados da prova. O Benfica ficou, assim, num dos grupos em que é mais fácil terminar em primeiro, mas também ficar em último. Os números e a história confirmam isso mesmo e também revelam que as equipas portuguesas têm somado mais pontos, em média, e passado mais vezes nestes grupos sem tubarões.
Já vimos acima que, entre as equipas que estavam no pote 2, que são aquelas cuja sorte se pode comparar com a do Benfica, o conjunto de adversários dos encarnados é dos mais acessíveis, apenas superado em acessibilidade pelo conjunto de adversários do Ajax e do Shakthar. Por outro lado, como para passar no grupo basta ficar em segundo lugar, mais importante do que olhar para os três adversários é olhar apenas para os dois mais acessíveis, os que na teoria será preciso superar para seguir em frente. Dessa perspetiva, de entre as equipas do pote 2, o Benfica já é a segunda com a tarefa mais complicada. A soma dos coeficientes de Olympique Lyon e RB Leipzig só é superada pela de Bayer Leverkusen e Lokomotiv Moscovo, que fazem parte do grupo mais forte da prova, com Juventus e Atlético Madrid.
Mas, porque os coeficientes têm algumas limitações, olhámos também para a história recente. E os resultados confirmam a teoria. Nos últimos cinco anos, em grupos equilibrados como o que o Benfica tem esta época, Portugal teve equipas a passar em primeiro lugar, mas também equipas a terminar em último. No entanto, em grupos com um tubarão claramente candidato ao primeiro lugar, as equipas portuguesas ficaram sempre em segundo ou terceiro, nunca em primeiro nem em quarto.
O FC Porto tem-se dado melhor do que o Benfica em grupos equilibrados. No ano passado, terminou em primeiro num grupo com Schalke 04, Lokomotiv e Galatasaray, tal como já havia feito em 2014/15, quando enfrentou Shakhtar, Athletic Bilbau e BATE Borisov. Nas outras duas ocasiões em que teve grupos deste género passou em segundo lugar. Aconteceu em 2017/18, com AS Mónaco, Besiktas e RB Leipzig e também em 2016/17, com Leicester City, FC Copenhaga e Club Brugge. Já o Benfica ficou em último lugar em 2017/18 (Manchester United, Basel e CSKA) e também em 2014/15 (AS Mónaco, Zenit e Bayer Leverkusen), mas conseguiu seguir em frente, em segundo lugar, em 2016/17, quando defrontou SSC Nápoles, Besiktas e Dynamo Kiev.
Em grupos com um tubarão claramente favorito ao primeiro lugar, as equipas portuguesas têm-se dado pior. Em 2015/16, num grupo em que o favorito era o Atlético Madrid, o Benfica conseguiu passar em segundo lugar, superiorizando-se a Galatasaray e Astana. No entanto, na época passada, com o tubarão Bayern no grupo e tendo de disputar o segundo lugar com o Ajax, o Benfica terminou em terceiro, apenas à frente do AEK. Igual sorte teve o FC Porto em 2015/16, num grupo com Chelsea como cabeça de cartaz e onde se esperava que os portistas disputassem a segunda vaga com o Dynamo Kiev. Os ucranianos levaram a melhor, deixando os portistas em terceiro, à frente do Maccabi Tel Aviv. Também o Sporting ficou pelo caminho quando teve um tubarão no grupo, em 2014/15, já que o Chelsea confirmou o favoritismo e o Schalke 04 conseguiu a segunda vaga, com o Sporting a acabar em terceiro e o Maribor em último.
Nos últimos cinco anos houve outros dois casos que não se enquadram nem nos grupos equilibrados, nem nos grupos com um tubarão. É que, em 2016/17 e em 2017/18, em virtude de estar no terceiro pote, o Sporting teve de defrontar não um, mas dois tubarões. Das duas vezes ficou pelo caminho, primeiro com Real Madrid e Dortmund e, no ano seguinte, com FC Barcelona e Juventus.