Foram sete em 18. Mais de um terço das equipas da I Divisão caíram à primeira barreira na Taça de Portugal, com a particularidade de três delas terem sido eliminadas por adversários que jogam dois escalões abaixo. Descontando a maior normalidade dos resultados obtidos por GD Chaves, Feirense, SC Farense e Académica, foram as proezas de FC Alverca, Sintra Football e Beira Mar que chamam mais a atenção e levam toda a gente a perguntar: houve mais mérito dos pequenos ou demérito dos grandes? Foram seguramente as duas coisas, mas a questão é que essa é a pergunta errada. O que um fim-de-semana como este me leva a pensar é que a diferença entre um jogador de I Liga e um jogador de Campeonato de Portugal, uma equipa de I Liga e uma equipa do terceiro escalão, está cada vez menor. E isso tem consequências a todos os níveis.
Depois de forçar o FC Famalicão, líder-surpresa da I Liga, a um desempate por penaltis, que acabou por perder, Rui Quinta, o treinador do Lusitânia de Lourosa, aproveitou para criticar o formato do Campeonato de Portugal. Com razão. Percebo que os quatro grupos se devam a razões económicas, porque a exiguidade da receita aconselha à criação de zonas regionais, diminuindo as viagens e, portanto, os custos, mas não faz muito sentido que uma equipa que ganha o seu grupo acabe por ser forçada a um play-off e que só dois dos oito apurados para esse play-off possam festejar a subida à II Liga. Que uma época inteira seja posta em causa por um par de jogos, lá mais para o final. O nível global do Campeonato de Portugal merecia bem mais esforço da Federação Portuguesa de Futebol do que o que tem sido feito e que se reflete nas transmissões de jogos em direto no Canal 11.
Se há quem defenda a redução do número de participantes na I Liga – e, francamente, não acho isso nada necessário, porque o que as equipas mais precisam é de jogar, não é de passar as semanas a repousar – parece-me bem mais importante a criação de um terceiro escalão nacional mais seletivo, com duas zonas em vez das atuais quatro, por exemplo. E, depois, sim, uma quarta divisão com quatro zonas, de forma a que pudessem premiar-se os vencedores de cada zona com a subida, num esquema verdadeiramente piramidal, que não apertasse o garrote todo num só momento. Com 18 equipas na I Liga (desceriam três), outras 18 na II Liga (subiriam três e desceriam três), 36 num terceiro escalão (subiriam os vencedores de cada zona e o vencedor de um play-off entre os dois segundos e desceriam os três últimos de cada zona) e 72 num quarto (subiriam os vencedores das quatro zonas e os dois finalistas de um final four entre os quatro segundos e desceriam os cinco últimos de cada zona, para darem lugar aos campeões distritais).
Porque a verdade é que no Campeonato de Portugal há jogadores que podiam estar na I Liga – e vice-versa – e que ali já se trabalha de forma muito profissional. E isto tem consequências várias, não apenas ao nível coletivo, mas também, por exemplo, nos salários que cada um deles recebe. Para os jogadores, por exemplo, muitas vezes o que faz a diferença é ter um empresário com mais ou menos conhecimentos, é ter feito a formação num ou noutro clube, é ser o fetiche de um ou outro treinador. Para os clubes, a diferença faz-se tantas vezes de outra forma, pela maior ou menor capacidade do seu departamento de scouting, pela necessidade de fazer a vontade a este ou àquele empresário, pela qualidade de treino da sua equipa técnica. Se todos estes fatores penderem para um lado, um bom dia de um FC Alverca chega para um mau dia de um Sporting, como se viu na sexta-feira. E isso só me leva a achar que há muita coisa mal na distribuição geral de receita e que o desabafo de Rui Quinta vai muito para lá da frustração de ter sido eliminado nos quartos-de-final do Campeonato de Portugal do ano passado, depois de ter ganho a sua zona. O que está ali em causa é a competitividade geral do futebol nacional.