Há várias formas de escrutinar aquilo que foi a ponta final do mercado do Sporting, o grande utilizador do fax da Liga no dia de ontem, com as vendas de Thierry Correia e Raphinha e o empréstimo de Diaby a juntar-se às chegadas – todos por empréstimo – de Fernando, Jesé e Bolasie. Há que avaliar se a equipa ficou mais forte, se ficou mais equilibrada e, num outro plano, se a concentração de tantas mudanças neste último dia obedeceu a alguma espécie de plano estratégico ou se foi mero fruto do desespero em baixar a folha salarial. Parece-me evidente que houve ali uma fuga para a frente, que foi o mercado a fazer o Sporting e não o Sporting a fazer o mercado, mas ainda assim parece-me que o plantel de 3 de Setembro é mais forte que o de dia 2. Ainda que igualmente desequilibrado.
Olhando para o que se passou ontem, a ideia fundamental foi a de que o Sporting aproveitou todas as oportunidades que se lhe proporcionaram mas não foi capaz de criar aquelas de que verdadeiramente necessitava. Continua a faltar, por exemplo, outro ponta-de-lança, alguém que assuma o lugar de Bas Dost ou que concorra com Luís Phellype. Já tinha escrito, logo no início da época, que Varandas, Viana e Keizer tinham de ter uma conversa muito clara acerca da ideia de jogo da equipa, mas se o sistema continua a ser aquela que o técnico holandês mais vezes apresenta no início dos jogos – um 4x3x3 com avançado de referência – não há num plantel tão longo ninguém que possa jogar em vez de Luís Phellype. E se isto é uma manifestação de confiança em Pedro Mendes, o ponta-de-lança dos sub23, seria mais conveniente inseri-lo de vez em quando no ambiente competitivo da equipa principal, à qual nunca foi sequer chamado.
Depois, olha-se para a realidade dos extremos e eles continuam a ser claramente demasiados. Podem dizer-me que o Sporting, ontem, perdeu dois e foi buscar outros dois e isso não deixa de ser verdade. Mas não foi buscar, por exemplo, ninguém que substituísse Thierry Correia, pela simples razão de que tinha mais dois laterais direitos no grupo – Rosier e Ristovski. Ora para jogar como extremo, saíram Diaby (cuja falta ninguém vai verdadeiramente sentir) e Raphinha (que vinha sendo um dos melhores da equipa), e entraram Fernando, Jesé e Bolasie. No plantel já havia Plata, Camacho e Jovane Cabral. Já para não falar de Acuña, que parece condenado a recuar para defesa-esquerdo, e de Tomás Silva e Joelson, as duas maiores figuras da equipa de sub23, cuja ascensão fica assim mais dificultada. São seis (ou nove) opções para dois lugares no 4x3x3 que Keizer usa. Ou melhor, para um lugar, que uma dessas vagas parece destinada a Vietto, que o treinador desistiu de compatibilizar com Bruno Fernandes no corredor central. A concorrência que falta entre pontas-de-lança, sobra – e de que maneira – nos extremos.
Daí que, das duas uma: ou Keizer muda de plano de jogo e passa a trabalhar, por exemplo, um sistema com três atacantes móveis na frente – e mesmo assim terá oito opções para três lugares, o que deixará muita gente parada com demasiada frequência – ou há ali um excesso de povoamento que me leva a duvidar do plano estratégico atrás deste encerramento de mercado. O clube tem, ou não, esperança em Plata, Camacho e Jovane, que são seus ativos, jogadores promissores de seleção e de quem os adeptos querem ver mais coisas? E, se tem, faz sentido trazer tanta gente para bloquear a progressão desses miúdos em quem acredita? Ainda por cima por empréstimo – o que fará com que a eventual valorização acabe por beneficiar outros, pois não se vê, por exemplo, o Sporting a recuperar Jesé, cujas últimas épocas foram do nível baixo das de Vietto, e depois a acionar a opção de compra e a suportar sozinho um salário superior ao que tinha Bas Dost.
Tudo somado, leva-me a dizer que, sim, o Sporting de 3 de Setembro está mais forte do que o Sporting de 2 de Setembro, estando igualmente desequilibrado. E transporta-me para a questão final, que tem a ver com a motivação do clube nesta ponta final do mercado. Foi o Sporting que fez o mercado ou deixou que o mercado o conduzisse? Estou mais tentado a comprar a segunda versão: que o Sporting se limitou a aproveitar tudo o que lhe aparecia, preocupado sobretudo em fazer dinheiro. E isto, mais uma vez, não é uma vergonha – serve apenas para se perceber o estado depauperado em que estavam os cofres de Alvalade. Os 33 milhões de euros que os leões fizeram no último dia devem ter dado um jeitão. E ainda têm o efeito perverso de agora podermos ver muitos dos adeptos que sempre acharam as vendas de jovens do Benfica para o Valência por 15 milhões mega-inflacionadas pelo efeito Jorge Mendes irem agora considerar que Thierry Correia (sete jogos ao todo pela equipa principal) até foi mal vendido, por 12 milhões. Os três milhões, de facto, farão toda a diferença…
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