Poucos jogadores têm sido tão preponderantes na carreira surpreendente do FC Famalicão, que semana após semana continua a ameaçar o status quo do futebol português, como Anderson Oliveira Silva. Demasiado bom como suplente para ser titular, Anderson leva já seis golos na Liga, todos como suplente utilizado. Um verdadeiro trunfo na temporada famalicense, que voltou a ser decisivo neste fim de semana, frente ao SC Braga. Mais uma vez, João Pedro Sousa recorreu aos serviços do avançado brasileiro de 21 anos e foi feliz. Ninguém entre os jogadores das dez principais ligas europeias lhe chega perto.
Com seis golos marcados, Anderson é apenas batido por Pizzi no total de golos marcados na Liga até agora. O registo do avançado famalicense é particularmente impressionante, já que ao contrário do médio do Benfica e de Zé Luís, avançado do FC Porto, com quem está em igualdade no total de golos marcados, marca sempre saltando do banco de suplentes. Todos os seis golos apontados pelo avançado brasileiro surgiram nessa situação, sendo que ele precisa de apenas 36 minutos, em média, para fazer um golo na competição. Curiosamente, na única vez que foi titular, ficou em branco e o FC Famalicão saiu derrotado pelo FC Porto por 3-0.
Esta época, só em três ocasiões Anderson não marcou saltando do banco de suplentes. Aconteceu à segunda e terceira jornadas, frente a Rio Ave (1-0) e Vitória SC (1-1), mas também à sexta, em Alvalade, jogo que os minhotos também venceram por 2-1. Em todos os outros, e já são cinco, Anderson saltou do banco para faturar um total de seis golos que muito ajudam o FC Famalicão a estabelecer-se na terceira posição da liga ao fim de dez jornadas. No G10 do futebol europeu, ninguém o supera e são muito poucos os que chegam perto.
Em Portugal, em particular, Anderson leva já o dobro dos golos como suplente dos homens que o perseguem nesta estatística: Rodrigo Pinho e Douglas Tanque. Enquanto o avançado de 21 anos do FC Famalicão já leva meia dúzia de golos, os avançados de Marítimo e FC Paços de Ferreira quedam-se pelos três golos apontados saídos do banco. E, enquanto todos os golos apontados por Anderson na Liga até agora surgiram nessa condição, Rodrigo Pinho e Douglas Tanque até já marcaram mais um golo num jogo em que foram titulares. Anderson é, portanto, demasiado bom suplente para ser titular.
Nem lá fora a situação muda de figura. Entre os participantes nas dez principais ligas do futebol europeu, só quatro chegam perto dos registos de Anderson e todos têm neste momento quatro golos marcados enquanto suplentes utilizados. Um deles, Ángel Rodríguez, do Getafe CF, até já saltou do banco mais vezes do que Anderson para chegar a esses quatro golos. Os restantes? Mbaye Diagné, do Club Brugge, que apontou quatro golos em cinco jogos como suplente, Klaas-Jan Huntelaar (Ajax), com quatro golos em cinco jogos como suplente, e Reza Ghoochannejhad (PEC Zwolle), com quatro golos em dois jogos como suplente, ainda que todos tenham acontecido no mesmo jogo, quando, à sexta jornada da Liga holandesa, saltou do banco para fazer um póker em 34 minutos frente ao RKC Waalwijk, ajudando ao 6-2 final.
Mais golos como suplente nas principais ligas europeias esta época:


Nenhum jogador nas dez principais ligas do futebol europeu chega perto dos registos goleadores de Anderson. Fora os referidos, em nenhuma outra das grandes competições de clubes algum jogador ultrapassa os três golos como suplente e em várias delas nenhum chega sequer a esse registo. Anderson até já pulverizou o total registado na liga portuguesa em toda a temporada passada, quando Róchez (Nacional), Jonas (Benfica) e Seferovic (Benfica) apontaram quatro golos nessa condição. Na verdade, também em 2013/14, 2014/15, 2015/16, 2016/17 e 2017/18 o registo máximo foi de quatro golos vindos do banco.
Desde 2012/13 que um jogador não apontava pelo menos cinco golos enquanto suplente utilizado. Nessa época, foi Edinho o autor da proeza, quando festejou cinco golos em nove jogos nessa condição ao serviço da Académica. O agora avançado do CD Cova da Piedade foi mesmo o último, nos anos mais recentes, a ter registos semelhantes ao de Anderson, quando em 2007/08 apontou seis golos como suplente utilizado em 11 jogos ao serviço do Vitória FC. Pelo meio houve Laionel, em 2010/11, quando ao serviço da Académica apontou cinco golos em 22(!) jogos como suplente utilizado.
Para chegar a registos superiores aos de Anderson é mesmo preciso recuar até à temporada 2002/03 quando não um mas dois jogadores conseguiram marcar mais golos como suplente do que o avançado do Famalicão. Nessa temporada, Edgaras Jankauskas (FC Porto) apontou oito golos nessa condição e Demétrius, do Moreirense, festejou sete. Ou seja, há dezasseis anos que um jogador não marcava mais golos a partir do banco do que os que Anderson já apontou em apenas dez jornadas de Liga portuguesa.
Do futsal às imediações do topo do futebol europeu em cinco anos
Natural de São Paulo, Anderson cumpre a terceira temporada ao serviço do FC Famalicão. Surgido em 2016 na equipa do Guaratinguetá, onde apontou 11 golos em 35 jogos na terceira divisão brasileira, ainda passou pelo Guaraní antes de rumar a Portugal, na temporada 2017/18. Na Europa, Famalicão foi sempre a casa de Anderson, que até tem o irmão gémeo, André Clóvis, bem perto. Afinal, Clóvis é hoje jogador do Leixões, depois de uma passagem pelo Portimonense. O segredo para o sucesso? “A vontade de ganhar. É sempre bom entrar no jogo, com pensamento positivo de que as coisas darão certo. Gosto de ter espaço, gosto de correr, ir para cima, isso facilita-me”, afirmou em entrevista ao portal Zero Zero.
Depois de 24 jogos na temporada de estreia e de 32 na época passada, em que chegou aos nove golos, Anderson não parece ter acusado a pressão da subida de patamar, tal qual toda a equipa do FC Famalicão. Em onze jogos já realizados, leva sete golos, uma vez que esteve também entre os marcadores no encontro entre o FC Famalicão e o Lusitânia de Lourosa, a contar para a terceira eliminatória da Taça de Portugal. O que começou por ser uma aventura sem grande expetativa tornou-se num sonho de vida.
“Vinha só fazer testes. Quando cheguei, o treinador era o Dito e ele disse-me que tinha uma semana para mostrar o que valia, mas em dois dias disse que eu já podia assinar o contrato. Um contrato de três anos. Foi um sonho”, recordou Anxderson em entrevista à Lusa, não escondendo que gostava de ver o FC Famalicão festejar o título no final da temporada. Afinal, no futebol, não há impossíveis diz. “Este é um Famalicão muito jovem, mas a determinação e o pensamento é de gente grande. Pensamos diferente e isso ajuda bastante. O Famalicão do ano passado, a equipa? Não tenho nada que reclamar. Toda a gente era sensacional a lidar com as pessoas. Mas não se compara com este ano. Está a melhorar cada vez mais. Acho que o Famalicão pode ser campeão. Mas sabemos que vai ser difícil. Mas nada é impossível”.
Não foi há muito tempo que Anderson deixou o futsal para se aventurar no futebol e a decisão não podia ter sido melhor. Só aos 17 anos trocou as quadras pelos relvados e mesmo sem escola ou experiência de largos anos em academias de formação, vai deixando a sua marca numa das principais ligas do futebol europeu. Sem medo de se assumir como arma secreta de um surpreendente FC Famalicão, o avançado brasileiro de 21 anos promete não ficar por aqui.
“Penso chegar mais longe ainda. Estou num bom clube, respeito o Famalicão, mas tenho de ser sincero: quero chegar no topo do futebol. O Anderson pode chegar lá e tenho a certeza que a treinar todos os dias e a fazer tudo o que tenho feito vou assinar o meu contrato profissional com a equipa dos meus sonhos. Pode-se dizer que sou a arma secreta desta equipa. Quando entro, entro sempre com vontade de ganhar e fazer diferença. É isso que me distingue. Quero ser o melhor marcador da Liga”. Para já, só Pizzi o supera.

