Da quinta-feira europeia ressalta muito futebol, de que falarei mais daqui a pouco, no Futebol de Verdade, e um protesto insólito – o dos adeptos situados na zona das claques do Sporting contra a direção de Frederico Varandas, entoado com os sapatos erguidos bem alto, acima da cabeça. Em causa estava a revista de segurança feita numa das portas de entrada no estádio, que afetou toda a gente que por ali entrava e visava evitar que chegassem à bancada engenhos pirotécnicos, alguns tão pequenos como um isqueiro mas capazes de causar os danos bem reais, como já se viu em Guimarães ou em Alvalade, por exemplo. A indignação foi grande, mas o problema é que tudo no Sporting é hoje alvo de ira. E enquanto isso acontecer não há equipas que resistam e quem fica descalço é sempre o clube.
Imagino que, tal como eu, o leitor nunca tenha tentado levar armas para dentro de um avião. E que, tal como eu, já lhe tenha sido pedido, numa porta de segurança de um aeroporto, para tirar os sapatos, deixando-o angustiado a pensar no par de peúgas que escolheu nessa manhã depois do duche. O facto de não ser terrorista não significa que se sinta indignado com o pedido que lhe é feito, que deixe de o cumprir ou que, uma vez sentado no avião, se descalce e exija em cânticos que também o comandante do avião e a respetiva tripulação o façam. Infelizmente, houve atentados em aviões – como houve incidentes com tochas dentro dos estádios – e isso significa que as regras de segurança apertaram nos aeroportos. Não é bom – já perdi voos por causa disso… –, temos o direito a exigir que as forças de autoridade adequem as medidas necessárias aos horários dos espetáculos ou das viagens, mas não a sentir indignação por elas existirem.
Para mim, é indiferente que o pedido de revista aos sapatos tenha sido feito pela Polícia de Segurança Pública ou pela direção de Frederico Varandas, como é irrelevante que a revista tenha sido feita por agentes policiais ou por stewards do estádio. Os jogos de futebol são eventos privados, para os quais se vendem bilhetes, e até já defendi que quem os organiza devia banir espectadores indesejáveis, por reiterado mau comportamento, sem necessitar de qualquer condenação em tribunal. Não me é indiferente, contudo, que haja espectadores com bilhete comprado forçados a entrar no estádio quando já decorrera mais de metade do espetáculo que tinham pago só porque tiveram o azar de ter lugar na “zona premiada”. Isso já roça a falta de respeito.
Acontece que não foi contra esse atraso que o público de Alvalade protestou ontem – até porque quem anda nas claques já lhe aconteceu isso um pouco por todo o lado. O protesto foi contra a indignidade, numa jogada de vitimização que não faz nenhum sentido. Muito menos no Sporting de hoje, onde tudo é alvo de ira ou indignação. Entre muita demonstração de incapacidade, nomeadamente na construção ou liderança das equipas que foi formando em várias modalidades, a direção de Varandas tem atrás dela a razoabilidade no combate ao crime nas bancadas. Isso ninguém lhe tira. A questão é que entre a vitimização das claques, que se dizem perseguidas para daí tirarem dividendos políticos e recuperarem os privilégios de outrora, e a vitimização dos dirigentes do clube, que se entendem atacados sempre que alguém acha alguma coisa mal e o expressa de forma mais efusiva, o Sporting não se endireita.
Comentários 1