Demorou, mas foi. Em Guimarães mora uma das surpresas da temporada: quatro anos depois de ter chegado a Portugal, oriundo do Once Caldas, da Colômbia, Óscar Estupiñán é finalmente uma das figuras do Vitória Sport Clube. De renegado a elemento fundamental, a temporada do avançado colombiano foi uma autêntica montanha russa de emoções, pois depois de descartado por Tiago Mendes é hoje uma das figuras fundamentais no sistema de João Henriques. Com sete golos na Liga, é o melhor marcador do clube na competição, mas é muito mais do que isso em matéria de eficácia.
“Neste ano, quero ganhar o meu lugar aqui, no Vitória, trabalhar muito para me poder adaptar rapidamente ao futebol, apontar muitos golos na equipa e alcançar os objetivos que traçámos”, disse Estupiñán aos jornalistas por altura da chegada a Guimarães, em julho de 2017. Porém, só quatro anos depois o avançado colombiano vai deixando a sua marca na Liga Portuguesa, numa época em que até começou longe dos trabalhos da equipa principal vimaranense. Com sete golos marcados na Liga até ao momento, Estupiñán é o melhor marcador do Vitória na competição, indo a caminho da melhor temporada da sua ainda curta carreira.
Com a assistência rubricada perante o Boavista no passado fim de semana, em lance decisivo para o triunfo vimaranense, por 2-1, contra um dos seus maiores rivais, Estupiñán voltou a ser determinante. O avançado colombiano só chegou à equipa do Vitória por altura do Natal, mas em apenas onze presenças na Liga Portuguesa leva já sete golos e duas assistências, às quais se junta um golo frente ao Benfica na Taça da Liga. Em poucas semanas de competição e muito menos minutos do que os adversários mais utilizados, Estupiñán é já o quinto melhor marcador da Liga, apenas superado por Pedro Gonçalves, Sérgio Oliveira, Taremi e Seferovic.
Qual luva perfeita para a mão futebolística de João Henriques, Estupiñán não ficou mais de dois jogos sem faturar desde que foi resgatado pelo segundo técnico da temporada em Guimarães, impressionando os seus registos de eficácia. Não só porque conseguiu os sete golos na Liga para um registo de golos esperados de 4.78 xG, ou seja, revelando uma qualidade de finalização acima da média ao marcar mais do que seria de esperar, mas acima de tudo tendo em conta as suas taxas de eficácia em matéria de remates.
Estupiñán é mesmo o jogador da liga portuguesa com a melhor taxa de enquadramento de remates, tendo acertado praticamente 61% dos seus remates no alvo. Além disso, 30.44% dos seus remates resultaram em golo, registo muito acima de média na competição. Na verdade, entre os jogadores com pelo menos sete golos, os mesmos que o avançado colombiano já marcou, apenas Pedro Gonçalves tem uma percentagem de “goal conversion” superior à registada pelo avançado vimaranense.
Chegado a Guimarães no verão de 2017, depois de três temporadas ao serviço do Once Caldas, só quatro anos mais tarde, Estupiñán se fez figura na cidade berço. Em temporada de estreia em Portugal, o avançado evidenciou-se especialmente na equipa secundária do Vitória, com dez golos em dezanove jogos, não indo além de catorze presenças na equipa principal, quase as que já leva desde que em meados de dezembro regressou aos trabalhos da equipa de João Henriques.
Emprestado ao Barcelona SC do Equador em 2019 e ao Denizlispor na temporada passada, Estupiñán evidenciou-se com doze golos entre Liga e Taça na Turquia, mas nem por isso garantiu lugar na equipa vimaranense no início de 2020/21. Foi já em outubro, em pleno dia de fecho de mercado e depois de não conseguir colocação para o avançado colombiano de 24 anos que o Vitória finalmente inscreveu Estupiñán na Liga Portuguesa, sendo que só em vésperas de Natal é que este foi utilizado pela primeira vez na época. De lá para cá deixou completamente para trás a concorrência ao lugar de ponta de lança no D. Afonso Henriques e em apenas onze jornadas já tem mais golos do que todos os outros avançados vitorianos juntos.
“O nosso ‘mercado’ está aqui dentro. Olhámos para aquilo que o Vitória tem de bom na equipa B e na equipa sub-23. Ao sentirmos que estava ali um ativo importante para o grupo [Oscar Estupiñán], chamámo-lo. Sentimos que era um jogador adequado para a nossa ideia de jogo. Felizmente, está com bom aproveitamento. Está a mostrar aquilo que pensávamos dele”, afirmou recentemente João Henriques após o encontro frente ao Marítimo a propósito de um possível ingresso no mercado de transferências, ainda em janeiro, explicando de alguma forma o resgate que decidiu fazer.
Com um golo a cada 137 minutos, Óscar Estupiñán é também um dos jogadores da liga com o melhor rácio entre minutos e golos marcados. Entre os melhores marcadores da Liga Portuguesa apenas Luca Waldschmidt, Haris Seferovic, Pedro Gonçalves e Thiago Santana (que, entretanto, já saiu para o Japão) têm melhor média de golos por minuto do que a registada pelo homem do Vitória SC. Desde que entrou na equipa do Vitória SC à décima jornada, apenas em três rondas o colombiano não marcou ou assistiu. Agora, já não se coloca a questão se o Vitória devia ou não prolongar o vínculo com o avançado, a questão é se o conseguirá.
“O processo da renovação do contrato do médio André Almeida não é o único que está a ser trabalhado pela SAD vitoriana. A estrutura liderada por Miguel Pinto Lisboa pretende acelerar as negociações com os representantes de Oscar Estupiñán, cujo vínculo expira no final do mês de junho de 2022. Reabilitado por João Henriques, o avançado colombiano deverá receber uma proposta para prolongar o seu contrato”, escreveu recentemente o portal Guimarães Digital, com a imprensa colombiana a especular acerca da possibilidade do avançado ser mesmo convocado para a sua seleção num futuro próximo.
Apesar de ser o homem do momento em Guimarães, Estupiñán destaca o coletivo da equipa na sua explosão desportiva e até encontra pontos positivos na passagem pela equipa B do conjunto vimaranense. “Trabalhar na equipa B permitiu-me ganhar ritmo competitivo e melhorar o rendimento físico, pois vinha de uma paragem. Foi muito importante estar nos treinos com a equipa B, jogar e marcar no jogo em que participei. Aqui no Vitória somos uma família. Estejamos na equipa A, B ou sub-23, todos trabalhamos para o Vitória, porque em qualquer altura, um jogador da equipa B pode ir para a equipa A e um da equipa A pode ir para a B”, afirmou o colombiano no início de janeiro em declarações reproduzidas pelo jornal O Jogo.
Ter sido chamado à equipa principal do Vitória, por João Henriques, mudou um pouco a vida de Estupiñan, segundo o próprio, assegurando ser hoje um homem mais feliz. “Foi uma oportunidade muito grande que se apresentou, pois é numa posição muito difícil onde temos bons avançados e o treinador deu-me um voto de confiança importante. Desde o primeiro dia que treinei aqui, fui muito bem recebido e isso ajudou a que tivesse um bom ambiente de trabalho e que as coisas saiam bem como têm saído. Trabalho sempre a pensar em ajudar a equipa e o meu papel é fazer golos e dar assistências. Tenho de continuar a aproveitar esta fase boa com a ajuda dos meus companheiros, como o Rochinha, o Ricardo Quaresma e os outros alas que me servem muito bem e deixam com grandes possibilidades de fazer golo. Para mim é muito importante ter alas que partem no um contra um, que estão sempre à procura do golo ou de uma assistência”.
Estupiñán atribui o seu bom momento ao coletivo, mas não só aos extremos do plantel do Vitória. O colombiano destaca ainda um outro jogador fundamental na sua explosão esta temporada: André André. “Nas últimas partidas foram eles que me deram as assistências e o mérito é deles. O André André é fundamental no papel de organização de jogo, na criação de oportunidades e de passes para golo. É um trabalho de equipa que começa no Bruno Varela e muitas vezes acaba em mim no processo de finalização”.
Óscar Estupiñán até começou a época na equipa B, mas a falta de golos dos avançados da equipa principal levou João Henriques a chamar o atacante ao plantel principal, identificando-o com o perfil de jogo que pretende implementar na cidade berço. Os resultados foram imediatos e deram razão ao treinador. Hoje, o colombiano é uma das figuras da equipa, o seu melhor marcador, e uma das surpresas da temporada portuguesa. Em boa hora João Henriques promoveu o resgate do soldado Óscar.