Já tinha dito, em duas edições sucessivas do Futebol de Verdade, que muito provavelmente Bruno Lage iria dar a titularidade a Carlos Vinicius no jogo contra o Portimonense. Baseei a dedução na quantidade avassaladora de jogos que se aproxima, naquilo que o preenchimento do espaço central por parte dos adversários tem vindo a exigir ao futebol do Benfica e na noção de que o brasileiro, sendo pior do que Seferovic nalgumas coisas, é melhor do que o suíço noutras. A questão é que Vinicius entrou e fez dois golos em ataque à profundidade, o que parecia ser um dos principais argumentos a favorecer a titularidade de Seferovic. E agora, Bruno Lage? É para manter?
Claro que para se fazer parte do plantel de um dos candidatos ao título numa das principais Ligas da Europa tem de se ter qualidade – não falo dos 17 milhões de euros que o Benfica pagou por Vinicius e que ele ainda não tinha justificado, mas sim da constatação de que em condições normais não há “cepos” entre os 25 profissionais de um candidato. Mas aquilo que uns têm para oferecer é diferente do que oferecem outros. Por exemplo, o que dá Seferovic? Dá trabalho, dá pressão defensiva constante, dá busca da profundidade, pela forma como ataca o espaço nas costas da defesa adversária, fazendo-a recuar subitamente e dessa forma alargando o espaço para a linha de meio-campo – o que dá espaço para os criativos do Benfica jogarem. É fraco finalizador, é verdade. E isso expõe-no à ira popular muito mais do que se não fosse bom naquilo em que é bom.
Por outro lado, o que tem Vinicius? Começa por ser melhor finalizador e definidor de lances. Disso não há dúvidas – em média, Seferovic precisou esta época de 354 minutos para fazer cada golo, ao passo que Vinicius marcou uma vez a cada 48 minutos. Foi baseado nessa ideia, mas também na cadência de jogos a que o Benfica vai ser obrigado nos próximos dias – seis partidas em 18 dias, entre a receção ao Ol. Lyon e a visita ao Santa Clara, a 9 de Novembro – e nas crescentes dificuldades que os encarnados têm tido ultimamente para criar no espaço interior que achei que era altura de lançar Vinicius. Assim que os adversários perceberam que grande parte do perigo do futebol do Benfica passava pela forma como a equipa ligava jogo por dentro, passaram a concentrar muita gente ali, forçando a equipa de Lage a jogar por fora e a fazer o que se faz sempre que se joga por fora, que é cruzar. Ora já se vê que para um jogo com muitos cruzamentos, Vinicius, por ser melhor definidor, é mais aconselhável do que Seferovic.
Vinicius jogou contra o Portimonense e quem olhar apenas para a ficha de jogo conclui que foi boa ideia. O brasileiro marcou dois golos. Acontece que marcou dois golos em movimentos próprios de Seferovic, em ataque rápido e no ataque à profundidade. O Benfica até fez os dois primeiros golos em bolas paradas laterais, mas graças à intervenção de gente de linhas mais atrasadas (Gabriel e André Almeida no primeiro, Rúben Dias no segundo). Por outro lado, a transição defensiva funcionou pior, pois apesar da melhor contribuição nesse aspeto de Gedson e Cervi, nas duas alas, Vinicius e Chiquinho não a trabalham tão bem como Raul de Tomás e Seferovic. O que transporta a questão da dupla ofensiva encarnada para os jogos que aí vêm para todo um outro plano. Que dupla para a receção ao Rio Ave? E, depois, para a visita a Lyon? Um coisa é certa: cada jogo apresentará desafios diferentes ao treinador e à equipa. E o sucesso depende de escolher quem melhor resposta pode dar a cada um desses desafios.