Jorge Silas queixou-se ontem, pela segunda vez, da pressa que os jogadores do Sporting têm quando têm a bola. Toda a gente sabe que, pelo menos quando ainda não se fazem as coisas bem, convém não as apressar muito, porque a probabilidade de dar erro se torna maior – e é isso que o Sporting ainda faz durante boa parte do seu processo. Mas o problema não se esgota aí. O problema é que, depois, quando convém que acelere, que é na entrada do último terço, a equipa abranda. No fundo, o Sporting até tem ganho, já vai em três vitórias seguidas depois da derrota em Alverca, mas continua com os ritmos e as prioridades invertidas, a pedir tempo que só as vitórias podem garantir. E se no último terço continua a depender de Bruno Fernandes, na globalidade os seus resultados têm dependido muito mais da sorte de ver cair do céu um penalti como o de ontem ou do azar de ver um livre perfeito do capitão bater na barra, como em Alverca.
Falava o treinador da pressa que a equipa mostra no início da construção, da forma muitas vezes precipitada com que esta quer fazer a bola entrar na fase seguinte, e que isso conduz a erros e, por exemplo, expõe os laterais. É verdade e foi o que se viu sobretudo na segunda parte do jogo com o FC Paços de Ferreira, que os leões ganharam por 2-1, mas no qual acabaram a pedir o apito final e com tanta gente atrás – Ristovski, Illori, Coates, Mathieu, Borja, Doumbia e Eduardo, além do guarda-redes Renan – que pareciam estar a pedir novo golo do empate, pelo recuo excessivo. Aquela aflição final quase apagou as coisas boas que a equipa fez na primeira parte, período no qual se viram os tais “movimentos” trabalhados para este jogo e para os desafios que ele apresentava e várias progressões em triangulação ao primeiro toque que o treinador parece querer que venham a ser a imagem de marca da equipa dentro em breve.
A questão é que nesse bom período, os leões tiveram tanta bola que bem podiam ter criado mais do que criaram – e o que criaram quase se resume a dois remates de Luís Phellype nos primeiros 15 minutos, um dos quais deu golo. O resto perdeu-se no excesso de vagar que os jogadores revelavam sempre que entravam nos últimos 30 metros, sempre com a tentação de mais um passe, de mais uma tabela, de mais um envolvimento. No fundo, a precipitação de avançar que a equipa revelava no início da construção desaparece quando é preciso assumir – e numa noite de menor fulgor de Vietto, é aí que se revela a “brunodependência”, porque além do capitão não apareceu mais ninguém capaz de ser influente naquela zona em que a responsabilidade morde mais. A isso o Sporting já está bem habituado – nas últimas duas épocas dependeu muito de Bruno Fernandes – mas o problema é que, neste momento, a maior dependência da equipa nem tem sido do seu capitão.
Há muita coisa já feita por Silas neste Sporting, mas a noção que fica é que para já tudo está ainda muito dependente, isso sim, da sorte. O Sporting de Silas ganhou nas Aves com alguma sorte, ganhou em casa ao Lask Linz com muita sorte, perdeu em Alverca porque, aí, teve azar, e depois somou três vitórias seguidas contra Rosenborg, Vitória SC e FC Paços de Ferreira, todas elas com alguma fortuna à mistura. O controlo de jogo, que se faz melhor com bola do que sem ela, é uma forma de anular esta nova dependência. E é para o conseguir que Silas reclama tempo. Vai tê-lo em breve, já este mês, após a próxima interrupção para jogos de seleções, quando todos os outros candidatos estiverem a jogar mais uma eliminatória da Taça de Portugal. É aí que se lhe pedem ideias claras acerca do que quer ver. Porque uma benesse dessas não deve voltar a aparecer tão rapidamente.