Um dos muitos memes humorísticos que circulam por aí para ajudar a passar estes tempos de quarentena mostra um grupo de adeptos leoninos de cara feliz, porque pela primeira vez esta época o Sporting completou um mês sem perder. Quem me segue sabe que gosto de rir, até de mim mesmo, e que sempre achei que o futebol é uma coisa séria mas que nunca deve tirar-nos o bom humor. E se falo nisto em contexto profissional não é para ofender ninguém, mas tão só para abordar as consequências sérias desta paragem da competição, para já, na condução da equipa leonina. E a verdade é que, interrompendo a Liga, a pandemia anulou um dos maiores riscos que a contratação de Rúben Amorim a peso de ouro podia acarretar à gestão de Frederico Varandas, que era a possibilidade de o remanescente da época correr mal.
Só para falar em coisas práticas, a última derrota sofrida pelo Sporting, ainda com Jorge Silas aos comandos, aconteceu a 3 de Março, em Famalicão (1-3). Foi a 15ª da época, igualando o máximo histórico do clube, fixado em 2000/01 e em 2012/13. Tendo em conta que ainda havia dez jornadas de campeonato por jogar, incluindo deslocações a Guimarães, Dragão e Luz, não era difícil de supor que esse máximo tinha boas possibilidades de vir a ser superado, deixando esta época como a mais negativa de sempre para os leões. O maior problema, no entanto, nem era esse. É que, entretanto, a SAD leonina acionou a cláusula de rescisão de Rúben Amorim, concordando pagar dez milhões de euros ao SC Braga pelo treinador que recuperara os minhotos na Liga. E, além de esse valor parecer demasiado elevado por um técnico que promete mas que está muito longe de dar garantias – se é que alguém as dá… – a questão fulcral aqui era a de saber se o que resta de uma época aparentemente destinada ao fracasso não podia pôr em risco tão avultado investimento.
Rúben Amorim ganhou o primeiro (e único) jogo que fez aos comandos do Sporting (2-0 ao CD Aves, em casa, a 8 de Março). Nas dez jornadas que lhe faltam, podia recuperar o terceiro lugar – o SC Braga está a quatro pontos – mas podia também perder o quarto – o Rio Ave está a quatro pontos, o Vitória SC e o FC Famalicão a cinco e, embora ainda lhes falte jogar em Guimarães, os leões já perderam o confronto direto com vilacondenses e famalicenses. Correndo muito bem, o Sporting chegaria ao fim da Liga em terceiro lugar e ninguém ia aparecer para bater palmas. Correndo muito mal, os leões podiam terminar a prova em sétimo lugar e fora de uma posição de apuramento para as provas da UEFA de 2020/21, o que seguramente levaria a que as manifestações de desagrado que têm pontuado os últimos jogos da equipa em Alvalade ganhassem muitos novos interessados.
Ora, tendo em conta o histórico de Frederico Varandas com os treinadores – em ano e meio de mandato, demitiu José Peseiro, Marcel Keizer e Jorge Silas, já para não falar dos interinos Tiago Fernandes e Leonel Pontes, que também não o convenceram a ponto de os tornar permanentes – o que estava aqui em causa era o risco de um investimento de dez milhões de euros ser torpedeado antes mesmo de terminar o prazo acordado para o seu pagamento. E isso, muito mais do que a possibilidade de 2019/20 vir a ser a época com mais derrotas na história do Sporting, é que seria um problema. Da mesma forma que é por isso, e não por ter finalmente completado um mês sem perder, como brinca o tal meme de que falei no início do texto, que o Sporting pode ficar grato a esta interrupção, que possivelmente lhe permitirá começar 2020/21 de peito cheio e com condições para formar uma equipa vencedora.
Comentários 1