Enquanto Messi se vê metido num bate-boca com o diretor-desportivo do FC Barcelona, Eric Abidal, Neymar soma mais uma lesão polémica e Mbappé confrontou o treinador do Paris Saint-Germain, Thomas Tuchel, por causa de uma substituição que julgou “desrespeitosa”, Cristiano Ronaldo faz hoje 35 anos. E celebra-os numa das melhores formas de sempre, que o tem levado a partilhar os focos de atenção em termos de futebol internacional com o adolescente norueguês Erling Haaland, que quase podia ser filho dele. O momento do capitão da seleção nacional é tão bom que chega a ser preocupante, se olharmos para os desafios que tem pela frente antes d a fase final do Europeu de 2020 e para o desgaste que terá de acumular antes de integrar a equipa de Fernando Santos. Porque também Maurizio Sarri terá dificuldades em abdicar dele nos tempos mais próximos.
Ronaldo chegou recentemente aos 50 golos em 70 jogos pela Juventus. Esta época leva 19 na Série A e, a seis de Immobile, está bem dentro da corrida pelo título de melhor marcador da prova e até por mais uma Bota de Ouro – que seria a quinta. Marcou nos últimos nove jogos de campeonato – fez neles, 14 dos seus 19 golos – e está em mais uma luta contra ele mesmo, a duas partidas com golos de igualar o recorde da prova, estabelecido em onze jornadas seguidas a marcar por Batistuta e Quagliarela. Já se vê, por isso, que não vai entrar em rotação nos jogos com Verona (8/2), Brescia (16/2) e Spal (22/2), precisamente os três que antecedem o que pode ser o jogo do título, contra o Inter Milão, a 1 de Março. E a questão é que, também por esta altura, haverá meia-final da Taça, com o Milan (a 13/2 e 4/3), e regresso à Champions, em Lyon, a 26/2. São, portanto, sete jogos de elevado nível de exigência nas próximas quatro semanas.
E a complicação só começa aí. Porque a Série A este ano tem estado mais complicada do que o habitual. A Juventus abriu recentemente uma vantagem de três pontos para o Inter – e a Lazio até pode hoje passar a ser segunda, a dois pontos apenas, se vencer o Verona, num jogo em atraso – mas há um ano tinha nove a mais que o SSC Nápoles. E porque outro dos objetivos de Ronaldo é ganhar a Liga dos Campeões, que entra em Março na fase decisiva. E outro ainda é a conquista de mais uma Bola de Ouro, que dependerá em grande parte daquilo que ele for capaz de fazer na principal competição europeia – só marcou dois golos na fase de grupos, o que lhe eleva a exigência nas eliminatórias – e até no Europeu de 2020, onde lhe caberá liderar a geração mais recente em termos de talento nacional na defesa do título conquistado em 2016 com ele junto à lateral, a sofrer, por lesão, no jogo decisivo. São muitas montanhas para um respeitável cidadão de 35 anos.
Ora, se Ronaldo é Ronaldo é precisamente pela capacidade de trabalho que o levou sempre a encarar desafios e a superá-los, pelo conhecimento do corpo e dos seus próprios limites. Se houve incremento nos últimos tempos de Ronaldo no Real Madrid, ele deveu-se à aceitação de uma imposição de Zidane, que lhe fez ver que tinha de se poupar em alguns jogos menos relevantes para poder aparecer em grande naqueles em que fazia mais falta à equipa – e que também lhe permitiam a ele entrar nas lutas que interessam. Em Itália, o que se escreve por estes dias é que, depois de ter tentado impor algumas coisas a Ronaldo e de ter visto a equipa ressentir-se nos resultados, Maurizio Sarri faz hoje aquilo que o seu melhor jogador lhe sugere – e a Juventus voltou a planar. Mas 35 anos são 35 anos. E, com essa idade, até Ronaldo tem limites: os 60 jogos de competição por época, que ele deixou de querer ultrapassar desde o efeito-Zidane, são uma barreira mastodôntica à qual não deve querer regressar.