Bruno Lage tem insistido na ideia da concorrência dentro do plantel do Benfica, garantindo que não quer titulares seguros nem suplentes acomodados e essa ideia torna-se ainda mais interessante de avaliar quando se tem o músculo financeiro para proporcionar ao treinador um grupo com pelo menos duas opções válidas para cada posição. Se há um ano vos dissesse que o Benfica ia dar provas de competitividade com um meio-campo formado por Samaris e Taarabt, como sucedeu na segunda parte do jogo contra o Chivas, o mais provável era que vocês se rebolassem no chão a rir, mas até isso é fruto desta forma de Lage olhar para o plantel, tão depressa promovendo achados à condição de titulares como condenando as descobertas do mês passado ao ostracismo da bancada. Claro que, como em tudo, haverá sempre duas formas de olhar para o fenómeno, mas no final o que conta é sempre o mesmo: os resultados. E esses não dependem tanto da ideia do treinador como da estrutura mental dos jogadores que passam a viver nessa incerteza.
Esta ideia de um plantel homogéneo, com duas opções para cada lugar, permitindo a rotação permanente, é das mais antigas do futebol desde que este entrou na era industrial, com várias semanas seguidas a jogar duas vezes. É uma espécie de “El Dorado” que, geralmente, nasce associado a equipas com domínio financeiro sobre os rivais. Recordo, por exemplo, que o “Milan Due” era o sonho de Silvio Berlusconi no auge da equipa de Sacchi e Capello, mas que por mais estrelas que contratasse na Série A mais a equipa se afastava da máquina oleada de pressing zonal que tinha sido campeã italiana e europeia. Ora, havendo dinheiro para somar estrelas no mesmo balneário, por que razão é que a coisa nem sempre funciona bem? É aqui que entra em liça o aspeto humano – os jogadores aceitam bem o hype de quando chegam ao onze e mostram aquilo de que são capazes, mas nem sempre reagem da melhor forma ao outro lado do fenómeno, quando precisam de sair das luzes da ribalta para dar lugar à nova descoberta. Não é uma questão de caráter ou de profissionalismo: é mesmo uma questão de mente humana, pouco preparada para viver com a angústia, com a incerteza de não saber se voltará a ser tão feliz como já foi.
Ao contrário do que Lage muito bem disse acerca do entendimento nem sempre bom entre De Tomás e Seferovic na primeira vez que jogaram juntos, a questão aqui nem é só de rotinas – embora estas sejam naturalmente mais fáceis de conseguir numa equipa que tem um onze-base perfeitamente definido e poucas variações lhe faz de jogo para jogo. O Benfica da época passada foi uma tentativa de chegar a este caminho, mas registou várias baixas pelo caminho: para aparecer Samaris teve de desaparecer Fejsa; para aparecerem Gabriel e Florentino tiveram de desaparecer Alfa Semedo e Gedson; para aparecer João Félix teve de desaparecer Jonas; para aparecer Seferovic teve de desaparecer Ferreyra; para aparecer Rafa tiveram de desaparecer Cervi ou Zivkovic, já para não falar de Krovinovic, que por lesão ou falta de mentalidade competitiva acabou por deitar a toalha ao chão do ringue e já saltou fora da rotação. Aquilo que o treinador quer para 2019/20 é obter os ganhos sem contabilizar as perdas. Ele, melhor do que ninguém, saberá se tem no grupo jogadores com a estrutura mental certa para tamanha aposta, mas no final, mais uma vez, o que vai contar são os resultados. Na Liga e na Champions, que este Benfica cria expectativas de apontar mais alto do que os antecessores.