As semelhanças entre o futebol de Rafa e aquele que é praticado por Grimaldo, bem à vista, por exemplo, nos índices estatísticos dos dois na Liga, fazem do defesa lateral espanhol uma alternativa interessante para a posição do desequilibrador português, enquanto este estiver impedido de dar o seu contributo à equipa do Benfica, por lesão. É uma ideia fácil de vender, ainda que as adaptações no flanco costumem ser mais interessantes e habituais ao contrário – puxando um extremo para a defesa – do que assim. E no final, se Bruno Lage passar do teste feito ontem contra o FC Alverca à prática, na Liga dos Campeões, contra o Olympique Lyon, só ficam duas certezas: a de que, para formar o onze, o treinador não olha a nomes mas sim a perfis e a de que há mesmo uma guerra surda com Zivkovic.
Tanto Grimaldo como Rafa são fortes a correr com bola e em tabelas rápidas no último terço. Depois, muito em função das funções que os dois têm vindo a desempenhar, Grimaldo cruza mais, enquanto que Rafa surge mais frequentemente em posições de finalização. Mas isso são contingências de cada momento, de cada missão, bem como da posição de partida. No fundo, o que importa é a forma como cada um se encaixa na ideia global. Se em termos gerais, sobretudo em equipas grandes, é mais usual ver-se um extremo baixar para lateral, de forma a aproveitar a sua capacidade de chegada à frente para criar situações de superioridade numérica, não é líquido que não possa suceder o contrário. Sobretudo quando falamos de um jogador cujas armas não se limitam à velocidade com que aparece no último terço. Grimaldo é um lateral técnico, bom no drible e no passe rápido, e se há defeitos a apontar-lhe eles têm muito mais a ver com a capacidade defensiva ou até com a baixa estatura, mais importante se for chamado a fechar por dentro na posição de lateral do que em qualquer missão que possa vir a ser-lhe confiada se jogar na frente.
Não tenho dúvidas, por isso, que, na falta de Rafa, Grimaldo pode ser uma solução para fazer aquilo que o português faz pela equipa – até a capacidade de jogar por dentro o espanhol está habituado a exercitar, mesmo como lateral, porque integra um reduzido lote de homens capazes de partir da posição para explorar o jogo interior. A questão fundamental a colocar aqui será sempre por comparação. Mas porquê ele? Porquê Grimaldo quando há Cervi, Jota, Caio Lucas ou Zivkovic. A concretizar-se esta experiência num jogo a sério, o sérvio, que ainda não tem sequer um minuto de utilização nesta temporada mas que até esteve também em campo contra o FC Alverca, assume-se como principal vítima das circunstâncias. Sim, o futebol dele é diferente do de Rafa – não é tão veloz com bola, é menos dado a combinações e mais a iniciativas individuais em que o português só insiste se tem espaço livre. Mas incluí-lo não seria uma mudança assim tão radical na ideia de jogo do Benfica, pelo que o seu “esquecimento” só pode ser atribuído a uma de duas situações: ou falta de compromisso do jogador, refletida pela pouca qualidade do trabalho ou do empenho no treino; ou uma situação de guerrilha que tenha a ver com a questão contratual e com a recusa do jogador sair no último dia de mercado.
Seja como for, não é coisa boa.