O dia de hoje foi para discutir a essência. A essência que Raúl de Tomás diz ter perdido em Portugal e recuperado assim que chegou a Espanha, para ser apresentado como reforço do Espanyol, mas que Bruno Lage sempre viu nele, justificando o falhanço do ponta-de-lança com questões de “adaptação”. A essência da competição na Liga Portuguesa, que pode ou não ficar afetada pela recusa do Sporting aceitar o adiamento do jogo com o Vitória FC, que alega ter mais de três quartos do plantel de baixa, por causa de um surto viral. Mas também a essência de uma estratégia, a que o CD Aves vai apresentar amanhã na Luz face ao Benfica ou aquela que o Moreirense preparou para receber o FC Porto, e que pode passar por uma boa organização ou por um autocarro, dependendo da forma como se olhar para ela.
Primeiro, o caso de hoje. Pelo segundo dia consecutivo, o Vitória FC alega que não treinou, o que assume contornos mais ou menos graves, porque daqui a mais dois dias a equipa sadina vai receber o Sporting, em jogo da 16ª jornada da Liga. A razão continua a ser o surto viral que, dizem os responsáveis, mantém de baixa mais de 75% do plantel. Os jogadores, aliás, foram em massa consultados hoje no Hospital da Luz, em Setúbal, enquanto que no Estádio do Bonfim se procedia à esterilização de algumas zonas, incluíndo as dos balneários. Perante este facto, o Vitória FC alegou caso de força maior e pediu o adiamento do jogo. O Sporting recusou, porque o jogo teria de se efetuar nas próximas seis semanas e, com o “final four” da Taça da Liga e a Liga Europa, não lhe sobravam datas. Que sim, que sobravam, respondem os sadinos, apontando para os dias em que se jogam as meias-finais da Taça de Portugal, nos quais nenhuma das duas equipas estão envolvidas.
“Não acredito que haja aqui alguém a querer ganhar na secretaria”, afirmou Vítor Hugo Valente, presidente do Vitória FC, que pelos vistos admite mesmo a possibilidade de a sua equipa fazer falta de comparência. A questão é que o Sporting não quererá abdicar da vantagem competitiva que os dias para repouso e preparação de jogos lhes darão, nas poucas semanas em que não terão mais de um compromisso. Ora, perante a recusa leonina, à Liga não resta outra alternativa a não ser manter a marcação original do jogo. Certo? Errado? Compreendo as posições de ambas as equipas, como expliquei na edição de hoje do Futebol de Verdade, que pode ver aqui. Mas creio que este caso ainda vai estar vivo amanhã. A aguardar pelos desenvolvimentos, portanto.


Vivo voltou a sentir-se Raúl de Tomás, que hoje foi apresentado como reforço do Espanyol, que é atualmente o último classificado da Liga espanhola. O Benfica comunicou os contornos do negócio à CMVM, revelando que De Tomás sai pelos mesmos 20 milhões de euros que tinha custado, mas que a estes valores acrescem mais dois milhões dependentes da concretização de objetivos e que as águias garantiram 20 por cento da mais-valia numa futura transferência. O jogador só quer saber do que vai poder fazer de novo em campo. “Perdi parte da minha essência em Portugal, mas ao falar com as pessoas do Espanyol recuperei a ilusão e a vontade de jogar”, afirmou. Bruno Lage revelou que não queria que o jogador saísse, mas que face à vontade dele acabou por ceder. E justificou o falhanço com questões de adaptação. “Por que é que o Vinicius não funcionou no Nápoles ou no AS Mónaco e aqui já lhe chamam Vinigolo? Ou por que é que o Seferovic passou tempos amargos e de repente na época passada fez uma segunda volta excelente e foi o melhor marcador da Liga?”, questionou o treinador das águias.


Lage ainda não vai ter Rafa amanhã, mas convocou Weigl, o mais sonante reforço já anunciado pelo Benfica neste mercado de inverno, para o jogo com o CD Aves. O jogo opõe primeiro e último da tabela. Mais: à Luz chega uma equipa que vem com dez derrotas seguidas em partidas fora de casa, à procura de evitar prolongar a série e chegar ao recorde negativo deste século, como pode ler aqui. Nuno Manta Santos, treinador da equipa que carrega com ela a lanterna vermelha, brincou com a estratégia que vai adotar. Quando lhe perguntaram se ia pôr o autocarro à frente da baliza, respondeu assim: “Vamos de autocarro para baixo”. Mas depois acabou por se queixar da existência de dois pesos e duas medidas na apreciação às estratégias das equipas. “Para uns é anti-jogo, para outros é controlo do ritmo de jogo”, disse.
No mesmo sentido falou Ricardo Soares, treinador do Moreirense, que amanhã recebe o FC Porto, para um jogo em que os dragões costumam ter dificuldades. “O FC Porto tem pontos fracos. Tem poucos, mas ainda são alguns. Se nós estivermos num dia bom e eles num dia menos bom a balança pode ficar equilibrada”, sustentou o treinador que chegou do SC Covilhã na pausa de Natal e Ano Novo. Certo é que os dragões não costumam passear em Moreira de Cónegos e Sérgio Conceição tem uma explicação para isso. “A dimensão do campo pode ser um dos fatores a justificar isso. Talvez seja o campo mais pequeno da Liga”, considerou o treinador dos portistas, que não se negou a elogiar o técnico rival. “As equipas dele são sempre consistentes do ponto de vista defensivo”, vincou treinador, que hoje viu Zé Luís juntar-se a Pepe no boletim clínico, com uma inflamação no joelho.


Do que Conceição não quis falar muito foi de mercado. Menos ainda quando o tema era Benfica e a hiper-atividade das águias nesta janela de transferências. “Nós estivemos muito ativos no Verão”, disparou o treinador portista, para depois se revelar satisfeito com os jogadores que tem. Aliás, as principais notícias de mercado continuam a ser sobre o Benfica, que parece ter Gedson na porta de saída, para o West Ham. O Fernando Gamito preparou-lhe a habitual resenha das notícias de mercado do dia, que pode ler aqui, nela se incluindo declarações de David Moyes, treinador do West Ham, acerca do médio benfiquista. “É um jogador que estamos a discutir, um jogador com muito potencial para o futuro”, disse Moyes, ao mesmo tempo que a Sky Sports garantia que os hammers e o Benfica já terão acordo para um empréstimo de 18 meses, sem opção de compra.
De hoje também é o esclarecimento de Quaresma, que recorreu às redes sociais para dizer que não é representado por “um tal Óscar Diaz“, o agente do português Luís Leal, do Newell’s Old Boys, da Argentina, que teria dito que ia apresentar ao River Plate e ao Boca Juniors propostas para que contratassem o extremo do Kasimpasa. Ou a revelação de Carlos Carvalhal, que vai continuar no Rio Ave, apesar de ter tido contactos “do Brasil, de Inglaterra, da Arábia Saudita, dos Estados Unidos e do México”. Fala mais alto o compromisso assumido com o clube de Vila do Conde e, também, a cláusula penal que o treinador teria de pagar se quisesse sair neste momento.
Por fim, hoje foi ainda o dia da apresentação da “final four” da Taça da Liga portuguesa e de se conhecer o segundo finalista da Supertaça Espanhola, que está a decorrer na Arábia Saudita. De manhã, no Último Passe, eu já tinha escrito o que acho acerca da deslocalização do futebol de topo (pode ler aqui). A verdade é que, depois da vitória do Real Madrid sobre o Valência CF, ontem (3-1, como pode conferir aqui), hoje foi a vez de o Atlético Madrid ganhar ao FC Barcelona, por 3-2, num jogo que até teve um sururu a envolver Messi e João Félix. Pode ver aqui os golos da partida, que teve duas reviravoltas e levou a que nem o campeão nem o vencedor da Taça do Rei estejam representados, no domingo, na decisão da Supertaça espanhola. Estranho? Acho que sim. E que assim a prova perde a sua essência.

