Se há coisa que o paradigma holandês ajudou a mudar na ideia que vamos tendo de futebol foi a função de médio posicional. Ainda há muito quem lhe chame médio-defensivo, mas foi precisamente isso que a escola de pensamento liderada por Johan Cruijff e impulsionada pelo sucesso de Pep Guardiola veio alterar: o médio mais central, mais recuado, não é escolhido fundamentalmente em função das suas caraterísticas de marcação, mas sim pela capacidade que mostra de fazer a equipa jogar. Sem bola tem de saber defender, como os outros médios, mas com ela tem uma obrigação fundamental, pois cabe-lhe muitas vezes iniciar a construção de jogo atrás: tem de ser um coordenador ofensivo competente, o que implica saber ser um geómetra do passe na perspetiva em que deve saber definir na perfeição os momentos de carregar e soltar a bola. É por isso que a contratação de Eduardo é a que mais curiosidade me suscita entre todas as que o holandês Marcel Keizer tem à sua disposição para o Sporting de 2019/20.
O futebol à holandesa exige um médio capaz de protagonizar o toma lá-dá cá permanente, um médio que tenha cabeça de estratega, que seja capaz no passe curto e longo e também na subida em posse. Nemanja Gudelj, um médio competente com carreira feita um pouco mais à frente, foi sempre um mal-amado das bancadas de Alvalade por causa da elevada exigência do cargo que lhe foi entregue, mas a questão é que, além de estar lesionado, Battaglia estava muito mais longe de ser esse jogador e Doumbia, que ainda é um jovem, vai sendo mais carregador de bolas do que eficaz distribuidor. O médio chegado do Belenenses SAD é, por isso, a aposta mais credível para a posição entre os jogadores à disposição de Keizer. Parece ter capacidade de leitura tática, bom domínio da arte do passe e até natural predisposição para subir no terreno e, à custa de uma finalização mais do que razoável, ir à procura do golo. Tal como Gudelj, porém, nunca foi um 6 e precisará de tempo para entender exatamente o que a posição exige – sobretudo neste paradigma que também é novo para ele, o de uma equipa onde ninguém à frente dele parece preocupar-se muito com essas coisas de defender.
É que, além de ainda não ter dado mostras de ter resolvido o seu maior problema de 2018/19 (que, para quem ainda não percebeu, eram as laterais da defesa), contra o St. Gallen, o novo Sporting até já mostrou detalhes interessantes do ponto de vista ofensivo mas, quando toca a comportamentos defensivos, parece ainda bastante atrás do que já se viu aos restantes competidores na luta pelo título. E por isso também perde – como perdia na época passada – o controlo sobre os jogos. A questão aqui é a de se perceber que resolver isso não é a missão do médio-defensivo, o tal a quem prefiro chamar simplesmente médio-centro. Isso resolve-se mais à frente na capacidade que a equipa tem de ganhar para encurtar espaços e para condicionar os adversários sem perder solidez.